Técnico do Atlético, Cuca abriu a apresentação no novo clube, nesta segunda-feira (13), na Cidade do Galo, falando sobre os desdobramentos do processo no qual foi condenado por estupro na Suíça. O processo foi extinto por uma falha na condução jurídica. O técnico do Galo citou que faz ‘ações discretas’ e afirma trabalhar incessantemente para se tornar uma pessoa melhor e entender mais sobre o tema.
“Eu gostaria de começar essa minha entrevista falando sobre a respeito da minha apresentação lá no Athletico Paranaense. Certamente vai vir à tona e com todo o direito, é um tema muito sensível, delicado e muito importante, que é o tema do caso da Suíça”, disse.
“Demorei tanto tempo sobre o tema porque hoje consigo falar, consigo entender que tentava falar do Cuca, e não era isso que a sociedade queria. Queria saber da causa, do tema, tenho trabalhado desde esse dia em busca de ser uma pessoa melhor, não só pelas minhas filhas, mas pelas mulheres, pelo respeito que as mulheres merecem”, completou.
Relembre o caso
No dia 3 de janeiro de 2024, o Tribunal Regional de Berna, na Suíça, anulou a sentença que havia condenado o técnico Cuca por estupro. O ex-jogador havia sido julgado por ter feito sexo, sob coerção, com uma menor de idade durante uma excursão do Grêmio em 1987 no país europeu.
A extinção do processo se deu por uma falha na condução jurídica. Não há possibilidade de um novo julgamento, uma vez que o crime já prescreveu. Vale destacar que o Tribunal não julgou o mérito, e, portanto, não inocentou Cuca.
Além da anulação da sentença, o brasileiro recebeu uma indenização de 13 mil francos suíços (R$ 55 mil na cotação atual). A vítima morreu, em circunstâncias não especificadas, em 2002.
Falha jurídica
Em meados de 2023, a defesa de Cuca apresentou um pedido de novo julgamento pelo brasileiro ter sido condenado à revelia - sem ‘direito’ de defesa. Em 1989, ano da condenação, o Grêmio indicou um advogado, que acabou renunciando à defesa. Com isso, o julgamento foi realizado apenas com representação da promotoria. A juíza reconheceu, segunda a assessoria de Cuca, “enorme prejuízo pela ausência de um advogado”.
“Hoje eu entendo que deveria ter tratado desse assunto antes. Estou aliviado com o resultado e convicto de que os últimos 8 meses, mesmo tendo sido emocionalmente difíceis, aconteceram no tempo certo e de Deus”, disse Cuca, à época da anulação do julgamento.
Leia pronunciamento de Cuca na íntegra
“Eu gostaria de começar essa minha entrevista falando sobre a respeito da minha apresentação lá no Athletico Paranaense. Certamente vai vir à tona e com todo o direito, é um tema muito sensível, delicado e muito importante, que é o tema do caso da Suíça.
Eu quando li aquela carta no Athletico, eu me prontifiquei, dentro de mim, a tentar ser uma pessoa melhor. Ser um homem melhor. E eu confesso para vocês que tenho aprendido muita coisa, com muita gente, escutado muita gente. Escutado minha família. Minha família é quase toda feminina, as filhas, netas e agora tem o Ravi.
Tenho entendido muita coisa que não entendia como ser humano. Eu quando demorei tanto tempo para falar daquele tema e hoje abro falando dele, é porque hoje eu consigo falar, eu consigo ver os meus defeitos. Eu consigo entender que eu tentava falar do Cuca, explicar o Cuca e não era isso que a sociedade queria. A sociedade queria saber do tema, da causa, do que eu, como homem, podia fazer pela causa, pelo tema.
E eu tenho trabalhado incessantemente, desde aquele dia, em busca de ser uma pessoa melhor, uma pessoa que entenda mais o tema. Não só pelas minhas filhas, pela minha neta, pela minha mãe, pela minha irmã, mas pelo respeito. Pelo respeito que as mulheres tem e merece. Pela igualdade que a gente busca e eu estou aliado a isso.
Hoje de manhã eu tive falando com o pessoal do futebol aqui, foi muito bacana. Tenho participado de palestras onde a gente conseguiu reunir meninos e meninas do Athletico, do Coritiba, do Paraná Clube. Por todos numa sala grande e discutir o tema de peito aberto.
Um menino questionando a menina do porquê, do que incomodava. O tema é muito importante, e faz muito bem para todos nós. Eu busco um mundo mais justo para mim, para minhas filhas, minhas netas e em contrapartida para todas as mulheres. A gente vive num mundo muito machista.
O futebol ainda é um mundo machista. Se a gente olhar o auditório, aqui temos 70, 80% de masculino, mas já foi pior. Há um tempo atrás foi muito pior.
Hoje eu olhando o treino das meninas, levei o Arana junto que uma menina queria conhecê-lo. Eu vi o quanto evoluiu o futebol feminino, coisa que eu não conseguia ver antes. Eu vi o quanto as meninas tem que lutar mais que a gente, o homem, para poder vencer.
A começar pelo horário, elas começam 7h30, tem que acordar 6h30, 5h, para estar cedo no campo, tomar café e depois ir para o treino. Essas coisas eu prometi e tenho feito, dentro do possível, com ações no meu Instituto, onde tenho três núcleos em Curitiba e quero transportar para o Galo que tem o Instituto Galo, que a gente vai conseguir fazer coisas importantes também pelo respeito às mulheres.
É uma coisa minha, que está dentro de mim. Não sou de ficar fazendo propaganda do que já fiz, de quantas coisas já fiz, mas faço minhas coisas de forma bem discreta e vou continuar fazendo. É uma bandeira que eu levantei e vou empunhá-la para sempre enquanto eu puder”