José Perdiz de Jesus, presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que por decisão da Justiça comum é o interventor da CBF após o afastamento de Ednaldo Rodrigues do comando da confederação brasileira, avisou que terá mínima interferência nas questões desportivas da entidade durante sua passagem pela sede da Barra da Tijuca, no Rio. Ele tem que convocar a nova eleição até 25 de janeiro de 2024.
Segundo Perdiz informou em nota na noite de quarta-feira (13), caberá à futura gestão tratar dos temas relevantes desportivos da confederação. O problema é que há questões que terão que ser decididas antes da eleição, como a convocação da Seleção Sub-23, que em janeiro disputa o Pré-Olímpico da Venezuela, e a definição do local da Supercopa do Brasil, marcada para 3 de agosto, entre Palmeiras e São Paulo.
Há também a necessidade de continuar negociações com diferentes federações internacionais sobre a candidatura brasileira para ser sede da Copa do Mundo Feminina de 2027. Na semana passada a direção da CBF entregou o caderno de encargos, mas como a decisão é mais política do que técnica, é preciso convencer centenas de cartolas a votar no Brasil. Os representantes das 211 entidades filiadas à Fifa votarão, em 17 de maio de 2024, para escolher o país que receberá o torneio.
Perdiz não está alheio a isso. Tanto que ele convidou o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, para ser o responsável por decisões desportivas da CBF até que uma nova diretoria seja eleita. Reinaldo, vice de Ednaldo na composição afastada pela Justiça no dia 7 de dezembro, não aceitou alegando que participará da negociação política para eleger o novo presidente. Em entrevista ao UOL ele afirmou que apoiará Ednaldo Rodrigues, caso ele seja novamente candidato.
A maioria dos funcionários da CBF está em férias coletivas, algo habitual para está época do ano, em que os principais campeonatos de futebol estão parados. Mas alguns diretores de setores importantes foram mantidos no cargo e continuam trabalhando, como Júlio Avellar, de Competições, e Claudia Faria, Gerente-Geral de Seleções.
Pré-Olímpico
Ramon Menezes, técnico da Seleção Sub-23, que tentará entre 20 de janeiro e 11 de fevereiro de 2024, na Venezuela, uma das duas vagas da América do Sul nos Jogos Olímpicos do ano que vem, em Paris, planeja fazer a convocação dois ou três dias antes do Natal.
É uma lista complicada de se elaborar porque o Pré-Olímpico não é um torneio em Data-Fifa, ou seja, quando clubes são obrigados a liberar os jogadores. É preciso negociar caso a caso, e é preciso ter a cúpula da CBF envolvida nisso. Por exemplo: Ramon quer convocar Endrick, titular do Palmeiras, mas é preciso aval do clube. E quem tentaria isso era Ednaldo Rodrigues.
Supercopa
Marcada para 3 de fevereiro, um sábado, a Supercopa Brasileira de 2024 colocará frente a frente o Palmeiras, campeão brasileiro de 2023, e o São Paulo, vencedor da última Copa do Brasil. Antes de ser afastado, Ednaldo Rodrigues tratava do assunto, que precisa estar definidos no início de janeiro por questões de logística de funcionários que farão a organização do confronto, além também da venda de ingressos.
Jogar em São Paulo, casa dos dois times, foi descartado por dois motivos: não haveria estádio neutro apto e há a determinação local de fazer clássicos apenas com a torcida do mandante em campo. O estádio Mané Garrincha, em Brasília, sempre é uma opção da CBF, que enviaria técnicos para ver a situação do gramado.
Só que neste momento, com a CBF sem a cúpula, a diretoria de competições até pode seguir tratativas técnicas do jogo, mas não há quem bata o martelo sobre o local, que no fim das contas também tem questões políticas envolvidas.
Entenda o afastamento de Ednaldo
O processo que causou o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF está ativo desde 2018, por iniciativa do Ministério Público do Rio de Janeiro, ainda referente à eleição de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo.
O MP questiona o estatuto da confederação por estar em desacordo com a Lei Pelé porque prevê pesos diferentes para clubes nas votações para a escolha dos presidentes. Os dirigentes das 27 federações estaduais têm peso 3 na votação, contra peso 2 dos 20 clubes da Série A e peso 1 dos 20 da B.
A Justiça anulou em 2021 a eleição de Rogério Caboclo e determinou uma intervenção na CBF, nomeando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), como os interventores. Essa decisão foi cassada pouco tempo depois.
A CBF e o Ministério Público fizeram um acordo extrajudicial e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O estatuto mudou e os pesos nos votos dos times das séries A e B ficaram iguais. Na nova eleição, em 2022, Ednaldo Rodrigues, que estava como presidente interino, foi eleito para um mandato completo de quatro anos, até março de 2026.
Gustavo Feijó, que era vice na época de Caboclo, acionou a 2ª instância. O pedido era que o TAC fosse anulado, e Ednaldo afastado, alegando que o juiz de 1ª instância não tinha atribuição para homologar o documento. Foi isso que foi acatado em 7 de dezembro pelo TJ-RJ.