O candidato à reeleição pela Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), não compareceu ao debate promovido pela Rádio CBN e os jornais Valor Econômico e OGlobo, marcado para a manhã desta quinta-feira (10). De acordo com as regras do evento, se um dos candidatos faltasse seria realizada uma sabatina com o que estivesse presente. Foi o caso de Guilherme Boulos (PSOL). Nunes ficou apenas 25 mil votos à frente de Boulos no primeiro turno das eleições.
“Lamento que o candidato Ricardo Nunes tenha fugido do debate. Isso é ruim para a democracia. A gente já teve nessa eleição muito problema com cadeira [sobre o episódio em que José Luiz Datena deu uma cadeirada em Pablo Marçal], mas, até agora, a gente não tinha tido cadeira vazia.”, destacou Guilherme Boulos na abertura da sabatina.
Pablo Marçal
Boulos anunciou a inclusão de uma proposta de Marçal (PRTB) ao dizer que quer dialogar com o eleitor do influenciador. “Eu entendo a indignação de você que votou no Marçal com esse cenário e é por isso que, nesse segundo turno, eu vou dialogar com cada um desses eleitores para buscar mostrar para eles que nós temos dois caminhos”, disse Boulos.
De acordo com o candidato do PSOL, as propostas que tratam de empreendedorismo e esporte nas escolas estão sendo consideradas. “Nesse segundo turno eu vou dialogar com cada um desses eleitores, inclusive incorporando propostas, o tema dos esportes nas escolas, que ele chamou de escola olímpica, conceito de você integrar o esporte como uma oportunidade para os jovens, para as crianças, para os adolescentes que estão nas escolas municipais”, destacou.
Geraldo Alckmin
Sobre uma aliança com o vice-presidente do Brasil Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos ressaltou que os apoios se cortaram para enfrentar a extrema-direita. Em 2012, quando Alckmin era governador de São Paulo, Boulos chegou a ser detido durante uma reintegração de posse, no caso que ficou conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista. “Quem mudou foi o Brasil, né? O que mudou não foi a personalidade das pessoas, nem a minha, nem a dele. O que mudou é que nesse meio tempo surgiu um campo político de extrema-direita marcado pelo ódio, pela violência, e que fez com que setores que pensam diferente se unam para poder enfrentar esse campo. Isso teve em jogo na eleição passada, com a chapa Lula-Alckmin, e isso está em jogo novamente nessa eleição”, explicou Boulos.
Ocupações de terra
Questionado se mudou de ideia sobre ocupações de terra, o candidato do PSOL disse: “ tenho o maior orgulho de ter participado durante mais de 20 anos da minha vida num movimento que deu casa para as pessoas, que lutava para que famílias inteiras pudessem ter um teto digno para morar. Não sei se você já acompanhou um despejo. Quando tem um despejo e você vê uma mãe, uma família perdendo o último colchão do que ela construiu, perdendo tudo e sendo jogada no desespero na rua, é um dever moral você estar ao lado dessas pessoas. E foi isso que eu fiz ao longo da minha vida toda”.
Apoio dos ricos
Sobre o fato de Guilherme Boulos ter tido mais votos em bairros nobres de São Paulo, o candidato afirmou que seu governo será para todo mundo. Segundo ele “combater as desigualdades sociais é bom também para quem mora na Bela Vista, em Perdizes, em Pinheiros, nos Jardins, porque faz uma cidade mais civilizada e mais segura. Agora, eu tenho o maior orgulho de ter ganho também no Campo Limpo, o bairro onde eu moro, no Capão Redondo, no Valo Velho, no Jardim São Luís, no Jardim ngela, no Piraporinha, no extremo da Zona Sul. Eu tenho o maior orgulho de ter ganho ali em São Mateus, em Cidade Tiradentes, em Guaianazes, no Itaim Paulista, no extremo da Zona Leste. E tenho o maior orgulho de ter ganho também em Perus e no Jaraguá, no extremo da Zona Norte”, ressaltou.
Nunes e Bolsonaro
“Vou perguntar aqui para o Gaspazrinho do meu lado. Foi-se falado muito sobre mudanças de posição. O Ricardo Nunes recebeu o apoio do Bolsonaro e, a partir daí, se colocou contra a vacina. Tem um vídeo dele que circulou durante a campanha em que ele diz que Bolsonaro fez tudo certo na pandemia. Ele [Nunes] é um negacionista climático, até o ano passado tinha um secretário do clima que não acreditava em aquecimento global, ou seja, o Ricardo Nunes atua, nessa campanha, como um prefeito laranja de outras figuras”.
Habitação
Perguntado qual seria o caminho para se resolver a questão da falta de habitação na cidade de São Paulo, Boulos afirmou que “para resolver o problema da habitação nós precisamos atuar em três linhas e é o que eu vou fazer a partir de primeiro de janeiro do ano que vem. Primeiro nós precisamos lidar com a chaga da população em situação de rua. Nós estamos falando de 80 mil pessoas vivendo nas ruas na cidade de São Paulo. Essa é uma questão que não é de esquerda, de direita, é uma questão de humanidade. Você não aceitar que na cidade mais rica do Brasil tenha isso. O que que eu vou fazer? Acolhimento humanizado [...] junto a isso, eu vou atuar para criar uma porta de saída, porque abrigo não é casa. A porta de saída é geração de emprego e renda para essas pessoas”.
Guilherme Boulos aproveitou para atacar Ricardo Nunes ao falar sobre habitação. “O que o Ricardo Nunes fez para atender a especulação imobiliária no plano diretor é um crime contra a cidade [...] quem mora no centro expandido sabe disso. Agora está tendo uma polêmica danada com o negócio do túnel Sena Madureira, que é um absurdo, vai desmatar a região, que vai fazer desapropriações por um determinado interesse. Nós vimos no plano diretor esse processo sem nenhuma contrapartida para a cidade [...] ninguém é contra a construção civil não. A construção civil gera emprego para a cidade, arrecada para a prefeitura. O problema é que aqui, como em Nova Iorque, como em qualquer grande metrópole do mundo, tem que ter regra. Não pode ser o vale tudo”.
Nunes rebate
Por meio de nota, Ricardo Nunes rebateu as acusações de Boulos, afirmando que vai acionar o adversário na Justiça.
Confira a nota na íntegra
Guilherme Boulos já foi condenado pela Justiça quatro vezes em somente dois dias de campanha no segundo turno por mentiras contra Ricardo Nunes.
Ele responderá na Justiça Eleitoral e na comum por mais essa e por todas as outras graves acusações que fez hoje na CBN.
O seu sistemático e calculado discurso de ódio só o levará a dois lugares: o recorde de rejeição e a novas condenações judiciais.
Sobre a ausência de Ricardo Nunes, reiteramos que os demais veículos de comunicação solicitantes de debate estão em diálogo entre si para a formação de pool, em nome da democracia.
Desde a redemocratizacão do Brasil e da primeira eleição direta realizada na cidade de São Paulo em 1988, o número de debates realizados na disputa de segundo turno nunca na história excedeu a 3 eventos dessa natureza.
Na eleição de 2020, o candidato Guilherme Boulos concordou com esse limite. Em declarações públicas explicou a inviabilidade da realização de mais de três debates em uma campanha curta de segundo turno. “É impossível”, disse ele, “atender às solicitações de sabatinas, entrevistas individuais, demandas de mídia e as ações diárias do período eleitoral”. Assim como mudou de radicalmente de opinião em temas como a legalização das drogas e a falta de democracia da Venezuela, o candidato adversário demonstra agora a mesma postura camaleônica.
Os ouvintes da rádio CBN já serão atendidos pela retransmissão do debate da TV Globo, ao qual Ricardo Nunes deverá comparecer.