O Ministério Público Federal (MPF) anunciou na tarde desta segunda-feira (20), a abertura de um inquérito civil para investigar a possível colaboração da empresa Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. (Usiminas) em violações de direitos humanos durante o período da ditadura militar no Brasil.
As investigações têm como ponto de partida o relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais, que destacou violações ocorridas no “Massacre de Ipatinga” em 7 de outubro de 1963. Nesse episódio, a polícia militar teria disparado contra trabalhadores da Usiminas que protestavam nas dependências da empresa, resultando em oito mortes e 92 feridos, de acordo com dados oficiais. O relatório aponta o evento como o conflito operário mais sangrento registrado no Brasil até então.
O inquérito do MPF busca esclarecer se a Usiminas teve alguma participação nos eventos, identificando possíveis responsáveis e vítimas. A iniciativa foi motivada por um requerimento aprovado na Comissão do Trabalho, da Previdência e Assistência Social da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) ressalta o envolvimento do empresariado com o aparato de repressão do regime militar, destacando a aliança entre empresas e o governo para reprimir a organização dos trabalhadores, especialmente os movimentos sindicais. Agentes da repressão, segundo a CNV, se infiltravam entre os operários, estabelecendo uma colaboração estreita entre a burocracia sindical e os órgãos de repressão.
Este é o quarto inquérito aberto pelo MPF em Belo Horizonte para investigar a colaboração de grandes empresas sediadas em Minas Gerais com a ditadura. Além da Usiminas, outras três empresas também estão sob investigação por suposta colaboração em troca de informações sobre o movimento sindical. As investigações, que visam apurar os fatos, incluem diligências, requisitos de documentos e entrevistas com testemunhas e vítimas.
O trabalho é complementado por pesquisas históricas financiadas por recursos provenientes de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo MPF, coordenadas pela Universidade de São Paulo (USP).
Em nota enviada a Itatiaia, a Usiminas esclarece que ainda não foi notificada sobre a ação.
Confira a nota na íntegra
“A Usiminas informa que não foi oficialmente notificada da ação do MPF. A companhia respeita o trabalho de preservação da memória do país e ressalta que o triste episódio de 7 de outubro de 1963 ocorreu em momento histórico diverso, quando a Usiminas ainda estava sob gestão estatal. É importante lembrar, ainda, que os relatos e documentos coletados indicam que os fatos ocorreram fora das dependências da empresa, com forças de segurança pública. A empresa não teve envolvimento no lamentável conflito”.