O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, repetiu nesta terça-feira (8) o gesto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tentar amenizar o mal-estar entre o governo e a bancada ruralista no Congresso Nacional desde que vieram a público três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado no último domingo (5), e que apresentavam textos críticos ao agronegócio.
Após reunião com Lula no Palácio do Planalto, Fávaro salientou que as perguntas são elaboradas por professores renomados, mas declarou que erraria as três questões se tivesse feito a prova. “Se eu estivesse fazendo a prova, eu ia errar as questões porque eu vivo e sei da qualidade de vida, sei do desenvolvimento que o agro leva para essas regiões”, afirmou. “O agronegócio gera oportunidades e desenvolvimento social”, acrescentou.
Nessa terça-feira (7), sem citar o Enem, o presidente Lula teceu elogios ao agronegócio em um movimento tímido para aliviar a tensão com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que pressiona pela anulação das três questões e pela convocação do ministro da Educação, Camilo Santana, às comissões no Congresso Nacional, para prestar explicações sobre as perguntas. “A gente não tem que menosprezar a agricultura. A gente tem que se lembrar de quanta tecnologia existe em um grão de soja, na criação do gado, dos porcos e dos frangos. A tecnologia nos ensina”, disse Lula.
Críticas ao Enem
A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) teceu críticas ao conteúdo do Enem e, em nota publicada nessa segunda-feira (6), pediu a anulação de três questões que citam o agronegócio brasileiro e a aprovação de um requerimento para convocar o ministro da Educação, Camilo Santana. O grupo presidido pelo deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) exige o comparecimento do ministro em ‘audiências na Câmara dos Deputados e no Senado Federal’ e solicita que o Ministério da Educação (MEC) preste informações sobre a banca organizadora da prova e as referências bibliográficas usadas para elaborar as questões.
As três questões contidas no Enem suscitaram reações negativas do setor ruralista brasileiro. Nas perguntas citadas são apresentados uma charge e os trechos de três artigos científicos; um deles critica abertamente o agronegócio. “De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado. Assim, as águas, as semanas, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada”, consta em um dos excertos. Outro descreve que o avanço do desmatamento da Amazônia está atrelado à expansão da soja.
Na nota crítica às questões do Enem, a FPA sustenta que as perguntas são ‘mal formuladas e de comprovação unicamente ideológica’. A bancada ruralista também afirma aguardar ‘posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre as questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico’.
Procurado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou, nesta segunda-feira, que as questões ‘são elaboradas por professores independentes, selecionados por meio de edital de chamada pública’ e indicou que não interfere nas ‘ações dos colaboradores selecionados’. Nesse domingo (5), antes do início da prova, o ministro Camilo Santana concedeu entrevista coletiva sobre o Enem. Na ocasião, ele afirmou que não houve e não haverá interferência do MEC na elaboração da prova.