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Metrô BH: contratação de empresa investigada por corrupção pode entrar na mira do TCE

Pedido foi feito pelo deputado Cristiano Silveira (PT) após repercussão de reportagem da Itatiaia

Alstom foi contratada pelo Metrô BH para modernizar sistema de sinalização nas linhas 1 e 2

Alstom foi contratada pelo Metrô BH para modernizar sistema de sinalização nas linhas 1 e 2

Arquivo Itatiaia

A contratação da Alstom pelo Metrô BH para modernizar os sistemas de sinalização das linhas 1 e 2 pode ir parar no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), devido às acusações à empresa francesa de formação de cartel, pagamento de propina e superfaturamento em contratos públicos. O presidente do Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais, deputado estadual Cristiano Silveira, enviou um ofício ao TCE pedindo que o contrato do metrô com a Alstom seja investigado.

Grupo francês que atua na área de infraestrutura de energia e transporte, a Alstom já foi alvo de dois escândalos de corrupção em contratos com empresas de metrô de São Paulo e do Rio Grande do Sul, entre 1999 e 2013. Em 2019, ela foi condenada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por improbabilidade administrativa e formação de cartel, mas uma liminar anulou os efeitos da condenação até uma decisão judicial, que tramita em segredo de Justiça.

Com a repercussão do caso, deputados da oposição na Assembleia Legislativa de Minas Gerais pedem que o processo de contratação da Alstom pelo sistema metroviário de Belo Horizonte seja apurada, sob a justificativa de que, apesar de ser uma empresa privada, o Metrô BH possui concessão pública.

O deputado Cristiano Silveira, em ofício enviado ao TCE, pede que o órgão: “investigue os possíveis impactos da contratação da empresa mencionada na prestação contínua do serviço público” e “averígue as medidas a serem adotadas pelo poder concedente para o cumprimento de seu dever fiscalizatório”:

“Ainda que a gente saiba que esse contrato é entre entes privados, já que o Metrô BH tem concessão, a lei ainda é muito clara e estabelece responsabilidade para poder público que é concedente. Quais foram as situações que essa empresa conseguiu obter esse contrato? O estado, poder concedente, tem responsabilidade direta nas contratações feitas pela sua concedente, no caso do metrô BH”, afirmou o deputado à Itatiaia.

Cristiano Silveira também esclareceu que pretende acionar a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Planejamento para solicitar informações em relação às denúncias contra a Alstom e a contratação da empresa pelo Metrô BH.

Questionado pela Itatiaia, o Metrô BH afirmou que “foi realizada uma rigorosa avaliação do mercado fornecedor com condições técnicas e econômicas” e que, ao fim do processo de contratação, “a empresa Alstom sagrou-se vencedora, por ter apresentado a melhor proposta técnico-comercial”. Leia nota na íntegra ao fim desta reportagem.

Já a Alstom ressaltou que, “em relação ao julgamento administrativo pelo CADE, entende ser incorreto por vários motivos, a Alstom questionou tal decisão na justiça e obteve liminar suspendendo completamente os efeitos da decisão do CADE”.

Relembre acusações contra a Alstom

Segundo investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Alstom teria prejudicado pelo menos 26 licitações pela atuação do cartel durante os anos de 1999 a 2013 no Brasil. A empresa ainda foi investigada em outros 11 países por denúncias de pagamentos de propinas, de acordo com uma reportagem publicada em 2008 pelo jornal norte-americano “The Wall Street Journal”.

Conforme as investigações da Polícia Federal, a Alstom participava de um cartel formado com outras nove empresas, a fim de vencer licitações públicas e superfaturar contratos. Todas as empresas envolvidas foram condenadas em 2019 pelo Cade.

As empresas combinavam qual delas faria a proposta vencedora em cada licitação e superfaturavam em até 30% o preço das obras e dos trens. As empresas perdedoras, então, eram subcontratadas pelas vencedoras das licitações. Para que o esquema funcionasse, servidores públicos recebiam propina por meio do intermédio de lobistas.

Nota do Metrô BH na íntegra:

“O Metrô BH informa que, para a realização dos investimentos em sistemas de sinalização ferroviária, obrigatório para a modernização da Linha 1 e das expansões futuras, foi realizada uma rigorosa avaliação do mercado fornecedor com condições técnicas e econômicas capazes de suportar a execução dos referidos serviços.

Ao final do processo de contratação, a empresa Alstom sagrou-se vencedora, por ter apresentado a melhor proposta técnico-comercial. O processo de contratação observou as melhores práticas de Governança e Compliance, no qual se constatou que a decisão proferida pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) encontra-se suspensa por decisão judicial, cujo processo ainda se encontra em andamento.

Por fim, informa-se que os trabalhos já foram iniciados e o cronograma está sendo devidamente cumprido”.

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