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Academia do Oscar homenageia atriz indígena 50 anos após protesto

Sacheen Littlefeather foi condenada ao ostracismo por profissionais do cinema

Sacheen Littlefeather foi vaiada na cerimônia da Academia em 1973, a primeira transmitida ao vivo para todo o mundo

Quase 50 anos após ter sido vaiada por recusar um Oscar em nome de Marlon Brando, em protesto contra o tratamento de Hollywood aos nativos americanos, a atriz Sacheen Littlefeather foi homenageada no sábado (17) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Durante cerimônia em Los Angeles com danças e canções nativas americanas, a Academia emitiu um pedido público de desculpas a Littlefeather, condenada ao ostracismo por profissionais do cinema.

Littlefeather, que é apache e yaqui, foi vaiada na cerimônia da Academia em 1973, na primeira transmissão ao vivo para todo o mundo, quando explicou que Brando, a quem ela representava, recusava o Oscar de Melhor Ator por “O Poderoso Chefão” devido ao “tratamento reservado aos nativos americanos pela indústria cinematográfica”.

A atriz diz que naquela ocasião subiu no palco “como uma mulher indígena orgulhosa, com dignidade, com coragem, com graça e com humildade”. “Eu sabia que tinha que dizer a verdade. Algumas pessoas podiam aceitar. E outras não.” Segundo ela, o astro John Wayne teve de ser contido para não agredi-la fisicamente quando deixava o palco.

Mesmo como integrante do Screen Actors’ Guild, o sindicato dos profissionais de cinema, a atriz teve dificuldade para encontrar trabalho em Hollywood, já que os diretores de elenco foram pressionados a deixá-la de fora das produções. O ex-presidente da Academia David Rubin, que pediu desculpas a ela em junho, falou sobre a “carga emocional” que Littlefeather teve de suportar e o consequente “custo para (sua) própria carreira”.

O ato de reparação ocorre no momento em que a indústria cinematográfica americana enfrenta o que muitos descrevem como uma cultura de sexismo, racismo e impunidade. “A Academia e nossa indústria estão em um ponto de inflexão”, aponta Rubin.

Em 2019, o ator Wes Studi, de “O Último dos Moicanos”, tornou-se o primeiro ator nativo americano a receber um Oscar, ao ser premiado com uma estatueta honorária em reconhecimento à sua carreira. “Nunca é tarde demais para um pedido de desculpas”, diz Littlefeather. “Nunca é tarde demais para o perdão.”

AFP
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