Em 18 de novembro de 1978, há exatos 45 anos, o fanatismo religioso tirou a vida de mais de 900 pessoas em Jonestown, uma comunidade fundada por Jim Jones. O pastor era o fundador do Templo Popular, uma seita americana pentecostal cristã de orientação socialista, que estava instalada no noroeste da Guiana.
Sob as ordens do reverendo Jim, pessoas de todas as idades que faziam parte do Templo do Povo formaram uma fila, para beber suco com cianeto. O suicídio coletivo organizado pelo líder religioso seria um protesto contra seus inimigos. Jim foi encontrado morto com um tiro na testa.
Passagem por Belo Horizonte
A história deste homem, que se declarava comunista e lutava ao lado dos afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial nos Estados Unidos, tem alguns capítulos em Belo Horizonte. Cerca de 16 anos antes da tragédia, Jim Jones se mudou para o bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul da capital mineira, onde se instalou com a família.
Por estar longe do mar e protegida por montanhas, Belo Horizonte foi considerada, no início da década de 1960, um dos nove melhores lugares no planeta para se esconder de um apocalipse nuclear ou do “fim dos tempos”. A informação estava em uma revista folheada por Jim. Para o líder religioso, que alegava ter visões premonitórias, esse era um sinal divino.
Eder Geraldo de Souza, hoje um bancário aposentado, tinha cerca de 10 anos quando Jim, a esposa e os filhos se mudaram para a vizinhança. Apesar do pouco tempo vivido em Belo Horizonte, Jim deixou lembranças que permanecem vivas até mesmo em quem era criança na época.
“Me lembro de muitas coisas, frequentei muito a casa dele. Não via nada de extraordinário para o que ele fez posteriormente. Todos nós brincávamos, eu e os filhos deles, tanto biológicos quanto adotivos. Ele era uma pessoa calma, a esposa era tranquila.”
O banqueiro aposentado conta que uma outra família vizinha de Jim Jones chegou a ficar mais próxima do líder religioso. Éder relembra as visitas à casa de Jim e afirma que sempre teve a impressão de que a família dele “nunca esteve em BH para ficar”.
“Tudo era embalado. Os móveis da sala estavam todos encaixotados. Os colchões das crianças ficavam no chão, a cozinha era improvisada, tudo mais ou menos.”
Alerta
A busca por seguidores e financiamento, que marcou a tragédia de Jonestown, ainda se faz presente no mundo atual, na visão de Éder. O bancário aposentado alerta: “Eu acho que o mundo hoje ainda continua a mesma coisa. Hoje tá muito mais fácil do que ele, que teve que sair a campo, procurando seguidores.”
Jim Jones, acabou ficando poucos anos no Brasil, e voltou para os Estados Unidos. Ao longo dos anos, o líder religioso ampliou consideravelmente a sua influência. Com o tempo, também vieram as denúncias de enriquecimento ilícito, assedio sexual e abuso psicológico, entre outras. Persuasivo, Jim Jones sempre conseguia convencer aos seguidores que estava sendo perseguido.
A seita do Templo Popular chegou a ter três filiais e cerca de 20 mil simpatizantes, incluindo políticos e pessoas influentes. O movimento terminou no dia 18 de novembro de 1978, em um suicídio coletivo organizado pelo próprio Jim Jones, que estava sendo investigado por possíveis abusos de direitos humanos. Momentos antes, a comitiva do Congresso dos Estados Unidos que visitava o local foi executada por seguidores do líder religioso.