Em tempos de alta nos preços dos insumos - em função da guerra na Ucrânia - uma boa notícia: uma parceria entre instituições brasileiras e uma alemã resultou no desenvolvimento de uma nova classe de fertilizantes multifuncionais. Os pesquisadores conseguiram criar um material único, à base de enxofre, para liberação controlada de uma fonte de fosfato proveniente de resíduos urbanos, a estruvita. O fertilizante inteligente e ecológico, de liberação lenta, aumentou a biomassa da soja, comparado a sistemas convencionais de adubação fosfatada. A soja foi utilizada no experimento por exigir altas dosagens de fósforo, mas o novo fertilizante serve para qualquer cultura que demande fosfato e enxofre, ou seja, praticamente todas.
Os pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e o instituto alemão Forschungszentrum Jülich, utilizaram o polissulfeto (PS) obtido por vulcanização inversa como uma nova matriz de fertilizante contendo o mineral estruvita (St) moído e disperso para criar o novo insumo.
A vulcanização inversa é um método de copolimerização inovador, um processo facilmente controlável e livre de solventes para obter polímeros ricos em enxofre, formando estruturas versáteis, maleáveis e porosas, ideais para aplicação como matrizes em compósitos.
Com uma área plantada em torno de 70 milhões de hectares, o Brasil ocupa a quarta posição entre os consumidores de fertilizantes do planeta, sendo o maior importador. Diante desse cenário, os pesquisadores acreditam que o desenvolvimento de fertilizantes com as características propostas seja fundamental para garantir a segurança alimentar de forma sustentável. No entanto, há um desafio.
Processo de transformação
O polissulfeto - classe de compostos químicos que contém átomos de enxofre - pode fornecer enxofre às plantas, macronutriente importante para o crescimento delas, mas nem sempre está disponível em solos agrícolas. Para ser absorvido por elas, tanto o polissulfeto quanto o enxofre puro, têm que ser oxidados no solo para sulfato, um processo de taxa lenta promovido por microrganismos do próprio solo.
O tema complexo é tese de doutorado da química industrial Stella Fortuna do Valle, pela UFSCar. A pesquisadora conta que, apesar de seu potencial como fertilizante ecologicamente correto, os efeitos do estruvita-polissulfeto nas plantas ainda são desconhecidos, e sua dinâmica no sistema solo-planta deve ser melhor investigada.
O que é estruvita?
A estruvita é um mineral formado pela reação do magnésio, do amônio e do fosfato. Foi encontrada, pela primeira vez, embaixo da igreja de St. Nicolai, Hamburgo, na Alemanha, Pode ser produzida a partir da recuperação do fósforo presente no esgoto doméstico, com maior eficiência agrícola do que os fertilizantes convencionais.
Apoio e Publicações
O estudo recebeu o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Associação Helmholtz.
Foi publicado em periódicos internacionais, como o .
Frontiers in Plant Science e o Journal of Agricultural and Food Chemistry
(*) Com informações da Embrapa Instrumentação.