Na última semana, ocorreram as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que resultaram na vitória de Donald Trump. O republicano disputou o cargo mais poderoso do mundo com a democrata Kamala Harris, atual vice-presidente dos EUA, eleita anteriormente ao lado de Joe Biden.
Harris fez história como a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de ascendência asiática a ocupar essa posição, sendo filha de um economista jamaicano e de uma pesquisadora indiana, que migrou sozinha para o país norte-americano e que ensinou a filha a ser “a primeira mulher a conquistar algo”. E a lutar para nunca ser a última – nas suas próprias palavras.
Formada em Ciências Políticas e Economia pela Universidade de Howard e com um diploma de Direito pela Universidade da Califórnia, Kamala Harris iniciou sua carreira como promotora, e se destacou pelo trabalho em defesa de mulheres e crianças vítimas de violência. Em 2011, tornou-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra eleita procuradora-geral da Califórnia.
Mais tarde, em 2016, foi eleita senadora pelo estado da Califórnia, onde trabalhou em questões como direitos civis, reforma migratória e mudanças climáticas. No Senado, ficou conhecida por seu estilo incisivo de questionamento em audiências, especialmente com membros da administração Trump. Em 2020, Harris disputou as primárias democratas para a presidência, mas retirou-se da corrida e foi escolhida como companheira de chapa de Joe Biden.
Para Trump, essa não foi a primeira vez que enfrentou e venceu uma candidata mulher em uma eleição presidencial. Em 2016, contrariando as pesquisas e o favoritismo da oponente, surpreendeu ao derrotar a também democrata Hillary Clinton.
A derrota de Kamala trouxe uma dose de decepção para muitas mulheres que apoiaram sua candidatura. Mulheres concorrem à presidência dos EUA há mais de 150 anos, mas nunca ocuparam o cargo. O chamado “teto de vidro” — metáfora que representa a barreira invisível que impede as mulheres de alcançarem o topo em estruturas hierárquicas — mais uma vez testou o otimismo daqueles que esperavam ver a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. O resultado também levanta questões sobre como quebrá-lo.
É difícil afirmar categoricamente se Harris teria vencido caso fosse homem, pois sua candidatura envolve fatores complexos que vão além do gênero e da sua luta pelo direito das mulheres, como sua origem étnica, sua política, sua experiência e seu apoio dentro do Partido Democrata. Mesmo porque o discurso de Trump atinge a população americana que empobreceu, que viu imigrantes entrar no país, que perdeu empregos, de modo que a sua fala conservadora foi ao encontro das dores da população.
No entanto, é inegável que o gênero moldou sua trajetória e os desafios que enfrentou, assim como acontece com muitas mulheres em posições de liderança. Sem dúvidas, sua história representa um exemplo de persistência e de quebra de barreiras na luta pela equidade: na política e no mercado de trabalho.