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Tempos de medo

Cinco anos da pandemia de Covid 19: fui parar no hospital por 11 dias, e escapei porque não era minha hora

Foi no mesmo dia: 14 de março de 2020. Meus chefes no rádio e na TV avisaram que as regras sanitárias exigiam o afastamento de pessoas com mais de 60 anos. Tinha uma casa com visão perfeita para as grandes antenas, o que permitiu fazer transmissão ao vivo para a TV. No caso da rádio, um pequeno estúdio resolveu.

Imaginava que ficaria dois, três meses no máximo longe dos tradicionais ambientes de trabalho. Foram dois anos e meio. De ansiedade, medo e, também, fortalecimento de laços familiares.

Até então, não tinha qualquer contato com as redes sociais. Como sempre costumo caminhar pelas ruas mais centrais, encontrar pessoas, ouvir críticas e sugestões, decidi entrar para o Instagram, para não perder o contato com a realidade. Imagina alguém que a vida inteira acorda as 5 e só para 10 da noite ficar girando entre a sala e a cozinha? Mas, embora não atenda nossos desejos, Deus nunca falha nas nossas necessidades. E permitiu ficasse mais tempo das minhas filhas. Choramos, cantamos, dançamos, cozinhamos, enfim experimentamos dias e noites inesquecíveis.

Meses depois do confinamento, vieram as eleições municipais. Achava um absurdo que as crianças não pudessem ir à escola e estivéssemos a caminho das urnas. No meu caso, do trabalho também. Como acontece desde 1978 fui cobrir a apuração no Tribunal Regional Eleitoral. Éramos três. Eustáquio Ramos adoeceu no dia seguinte, segunda; Junior Moreira adoeceu na terça; felizmente se recuperaram logo.

Eu, na quarta, e, talvez por estar muito triste com acontecimento profissional recente, fui parar no hospital por onze dias. Escapei porque não era minha hora.

Cinco anos depois, não mudei meu discurso: Belo Horizonte ficou parada por tempo exagerado, mais de 5 mil empresas nunca se recuperaram, o prejuízo causado na Educação - especialmente dos mais pobres – vai repercutir por décadas e, o que é pior, nós não aprendemos as lições de humildade, tolerância e amor à liberdade de ir e vir. Estamos mais beligerantes, brigamos no trânsito, em casa, no trabalho, em qualquer lugar por qualquer coisa. E se alguém pensa diferente, cancelamos. A pandemia agora é outra: o vírus é qualquer mensagem que chega ao nosso celular, verdadeira ou não, seguida do pedido “senta o dedo”. E a gente compartilha, destruindo reputações, relações familiares... Tempos de medo.

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Antes de trabalhar no rádio, Eduardo Costa foi ascensorista e office-boy de hotel, contínuo, escriturário, caixa-executivo e procurador de banco. Formado em Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Valores Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, possui o MBA Executivo na Ohio University, e é mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Agora ele também está na grande rede!
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