Enquanto os candidatos tentam chamar a atenção para seus projetos individuais de poder, a cidade não consegue disfarçar a decepção com dias difíceis, repletos de sujeira, abandono e insegurança. O pior é que já não se trata de uma ou outra região deteriorada; agora, por todos os cantos, no centro e nos bairros, tem sempre gente perambulando pelas ruas, destruindo, sujando e ameaçando.
Nesta terça, vim para a rádio ouvindo o Jornal da Itatiaia e uma reportagem sobre o dessossego dos moradores e trabalhadores na Avenida Pasteur, na região hospitalar. Reclamavam que comerciantes inescrupulosos fizeram um depósito de lixo na Praça João Pessoa. Os que habitam as ruas logo se apoderaram dos resíduos, fazendo a separação do que interessa ali mesmo, descartando o resto. Uma funcionária de loja diz que, se reclamar, é ameaçada. Sem falar nos que entram em seu estabelecimento exigindo usar o banheiro, quer o proprietário queira ou não.
Chegando na emissora, pelos fundos do prédio, na Rua Vereador Nelson Cunha, vi um cidadão destruindo todos os sacos de lixo que haviam sido colocados para coleta, minutos antes, pelos funcionários da Associação Mineira de Supermercados. Ele queria retirar garrafas pet, papelão e outros materiais recicláveis, mas, sequer abrir os sacos. Simplesmente rasgava um a um, retirava o que queria e deixava o resto no meio da rua.
Estamos vivendo um tempo de espanto. Pesquisa com os 5 mil moradores em situação de rua (segundo estudo da Prefeitura e da UFMG esse é o número), indica que 57 por cento deles declaram ter algum tipo de sofrimento mental. O psiquiatra Frederico Garcia diz que doenças como a depressão e a esquizofrenia, combinadas com conflitos familiares, empurram as pessoas para as calçadas, sem perspectivas, o que representa um risco para elas e terceiros.
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Precisamos urgentemente de um administrador que combine a assistência, o acolhimento e a compaixão com a firmeza de dizer não aos abusos que esses cidadãos cometem nas ruas. Afinal, quem paga os impostos, quer morar em paz ou trabalhar com segurança merece um ambiente minimamente habitável. Do jeito que está, as instituições públicas fingem que se preocupam, deixam a cidade entregue à própria sorte e ninguém tem coragem de dizer não aos abusos para não parecer higienista. O resultado é o caos.