Uma nota característica da vida é a insatisfação. Vem junto com o pacote da existência adulta saber que nunca será “suficiente”. Sempre haverá aquela fala, aquele dia, o que faltou, o que eu devia, “ah...”. E que bom que seja assim. A inquietação é o que nos move. O bom da vida mesmo são as suas contradições e suas dificuldades. É uma questão de “escolha” ou “maturidade” deixar que as dificuldades sejam um problema.
A gente luta para ganhar a vida de segunda a sexta. E nem sabe para quê. A gente quer ficar rico e ser feliz, mas para ter o que depois? Um post bonito? Será que é preciso? “sextou”, a gente diz, “que venha o fim de semana”! Mas, a bem da verdade, como lembrava Nelson Rodrigues, com profana ironia, “o sábado é uma ilusão”
A gente sonha com férias, tempo de descanso. E tudo isso é necessário. Deus não é um preguiçoso, mas até ele no sábado resolveu descansar (Gn 2,3). Sim, o descanso é dom preciso. “o sono é sagrado, alimenta de horizontes o tempo acordado” Beto Guedes. Não, o mundo não seria melhor se tudo fosse praia e diversão.
Uma vida sem tensão criativa, sem o amadurecimento que o “desconforto do outro” nos traz teria mais de álbum de fotos, coisa geralmente chata de se ver se não se faz parte do casal. A vida é filme em cartaz. Suspense, drama, jornada, maturação, recompensa provisória, instante imoral, promessa do infinito, que a fé nos traz...
Que bom estarmos vivos e juntos. A gente estranha e se arranha, mas também se aquece e reconhece. Que bom não sermos perfeitos, o perfeito está imutável e acabado. Um ser humano perfeito e acabado é um cadáver!
A vida pulsa, e passa rápido como um sopro. Que a existência tão breve, seja sutil, importante, inspiradora. Sutil, porque quem exagera no que faz teme a falta que a vida lhe traz. Que cada ação nossa seja importante, na etimologia do termo, que tem a ver não com relevância pública, mas quanto do bem que fazemos as pessoas “im-portam”, trazem para dentro de si, a fim de que dê lá não saia mais. Que a vida seja inspiradora, sobretudo para as crianças. Se uma delas (talvez seu filho ou neto...) te olhar com brilho dos olhos, saiba que suas escolhas deram certo e que todo cansaço valeu a pena!
O sábado é uma ilusão! Porque um fim de semana feliz não acontece no “nada”. Ele é o resultado de uma semana de cansaço, de encontros, de luzes e sombras, mas de bons propósitos. A gente não descansa para “fugir”, mas para transbordar e se inspirar.