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‘Muito dolorido, estou despedaçada’, relata filha de mulher que morreu após cirurgia plástica em BH

A filha Ana Carolina de Faria Lima relatou erros médicos, incluindo um furo na traqueia não documentado no prontuário; Claudineia Francisca Lima morreu nesse sábado (15)

“Vamos procurar Justiça porque eu não quero que nenhuma outra família passe por isso que a gente está passando porque é muito dolorido. Estou despedaçada”. Essa foi a declaração emocionada da técnica de enfermagem Ana Carolina de Faria Lima, filha de Claudineia Francisca Lima, de 46 anos, que morreu após ser submetida a um procedimento de hérnia epigástrica e de abdominoplastia em um hospital-dia na região Centro-Sul da capital mineira.

Em entrevista à Itatiaia neste domingo (16) ela detalhou sobre a busca da mãe pela cirurgia estética, que resultou em complicações graves e, por fim, na morte. “Inicialmente, ela iria fazer somente a cirurgia de hérnia epigástrica. Só que aí ela estava procurando um médico para fazer a hérnia com a abdominoplastia”.

Ela contou que mãe era pedagoga e trabalhava na zona rural de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Um antigo incomodo com o formato do glúteo levou Claudineia a procurar o médico Marcelo Regianni em 2022. “Ela queria fazer uma enxertia glúteo e a lipo nas costas devido a algumas gordurinhas que ela sentia incômodo. Inicialmente, o médico informou que não faria devido ao tempo extenso da cirurgia. “A gente descobriu que ele fez depois que ela voltou do pré-operatório. Ela até assustou e falou: ‘Ué, mas deu tempo de fazer a lipo?’” lembrou.

Após a cirurgia, Claudineia sentiu um incômodo na garganta. As enfermeiras disseram ser normal devido às duas intubações, algo que não havia sido informado inicialmente à família. “Ele havia dito que não ia precisar entubar, só faria a anestesia peridural. A gente não sabia que ela ia ser entubada”, contou.

Depois disso, ela começou a sentir dores e falta de ar, mas a equipe médica disse se tratar de uma crise de ansiedade. “A médica disse que minha mãe estava muito ansiosa”, contou. Em seguida, o pescoço e o rosto de Claudineia começaram a inchar. “Meu pai levantou para ajeitá-la na maca e ela pôs a mão no rosto e falou: ‘Gente, meu rosto tá inchando’”, lembrou. A filha contou que a médica ficou desesperada, ligando para outros profissionais para saber qual medicação deveria ser usada.

A jovem relatou, inclusive, que a equipe médica teve dificuldades em encontrar adrenalina. “Fizeram a hidrocortisona, depois deram um antialérgico. Elas ficaram um bom tempo procurando adrenalina. Nesse momento, os dados delas estavam estáveis. Porém, ela teve que ir para o oxigênio porque ela ficou com muita falta de ar. Aí ela continuou inchando ainda mais. O olho dela virou uma bola. Ela já não tava conseguindo abri-los. A médica estava desesperada”, acrescentou.

Ela foi transferida para outra unidade de saúde, ao lado do hospital-dia, onde continuaram tratando-a como choque anafilático. “Eles continuaram com o quadro dela falando que era choque anafilático, sendo que não era”, disse. O quadro se agravou e Claudineia a família optou por acionar o plano de saúde. De lá, ela foi levada para um hospital na Pampulha, onde constatado que Claudineia estava com um furo na traqueia e precisava de cirurgia.

No entanto, devido ao período de carência do plano de saúde da paciente, a recomendação foi transferi-la para um hospital público (SUS), no bairro Padre Eustáquio, para não pagar pela cirurgia particular. “O médico que fez a abdominoplastia falou que não ia pagar os custos”, contou.

Os médicos de lá disseram à família que a cirurgia de correção era arriscada devido à extensão do furo na traqueia. “Ele falou que era uma cirurgia muito arriscada, que o furo tava muito extenso e que corria muitos riscos. Ele deixou bem claro para gente que corria risco. Mas a culpa não foi dele, ele tava tentando consertar o erro do outro médico”, explicou. Ontem, a paciente passou por um procedimento pela cirurgia torácica mais invasiva, sofreu duas paradas cardíacas e faleceu.

Cunhada confundida por médicos

A filha de Claudineia descobriu que durante a cirurgia houve uma intercorrência com a ventilação. “Aconteceu um episódio que eles confundiram a minha cunhada com uma médica e a levaram para sala onde os médicos estavam discutindo o quadro da minha mãe. Quando ela entrou, ela ouviu dos médicos que fizeram a abdominoplastia que houve um erro na cirurgia, que ela estava na ventilação, mas o aparelho parou de funcionar. Ele trocou de aparelho e o outro também não deu. Quando foi para ventilação mecânica, que é mais forte, creio que o ar tenha saído muito forte e furado a traqueia dela”, disse.

Conforme a familiar, essas informações não estão no prontuário dela.

O que diz o cirurgião

O médico-cirurgião plástico Marcelo Regianni disse que não houve intercorrência que indicasse complicação durante a cirurgia. Por meio de nota, ele atribuiu a piora do quadro da paciente à demora no tratamento efetivo por conta de sucessivas transferências entre hospitais. Leia a nota completa aqui.

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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.
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