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‘Ele deveria ter parado a cirurgia’, denuncia filha de mulher que morreu após cirurgia plástica em BH

Segundo o médico-cirurgião plástico Marcelo Regianni, a equipe médica não identificou nenhuma intercorrência durante o procedimento

A técnica de enfermagem Ana Carolina de Faria Lima, filha de Claudineia Francisca Lima, de 46 anos, que morreu após ser submetida a um procedimento de hérnia epigástrica e de abdominoplastia em um hospital-dia na região Centro-Sul da capital mineira, disse que soube que houve uma intercorrência durante o procedimento, mas a equipe médica optou por continuar. “Ele deveria ter parado ali na hora a cirurgia”, contou à Itatiaia neste domingo (16).

“Aconteceu um episódio que eles [médicos] confundiram a minha cunhada com uma médica e a levaram para sala onde os médicos estavam discutindo o quadro da minha mãe. Quando ela entrou, ela ouviu dos médicos que fizeram a abdominoplastia que houve um erro na cirurgia, que ela estava na ventilação, mas o aparelho parou de funcionar. Ele trocou de aparelho e o outro também não deu. Quando foi para ventilação mecânica, creio que o ar tenha saído muito forte e furado a traqueia dela”, disse.

Ainda segundo Ana Carolina, uma profissional do Hospital Alberto Cavalcante, onde foi feita a cirurgia para corrigir a perfuração na traqueia, ela questionou a anestesista que participou abdominoplastia sobre a interrupção do procedimento quando o problema ocorreu. “Eles [o médico e a equipe] falaram que não”, contou. “Ele [o cirurgião] tinha esse poder de falar que estava tendo a intercorrência, que devia parar a cirurgia, mas ele não parou”, acrescentou.

Segundo a nota enviada pelo médico-cirurgião plástico Marcelo Regianni, a equipe médica não identificou nenhuma intercorrência na operação. A cirurgia plástica, feita sob anestesia geral, que exige intubação, foi realizada na quinta-feira (13).

Após a intervenção, Claudineia sentiu um incômodo na garganta que logo escalonou para dores e falta de ar. Depois de duas transferências de unidade de saúde e a realização de uma tomografia, foi identificada lesão na traqueia. O cirurgião atribui o agravamento do caso à demora no tratamento efetivo, ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais.

No sábado (15), a paciente passou por um procedimento pela cirurgia torácica mais invasiva, sofreu duas paradas cardíacas e faleceu. Ana Carolina disse que vai lutar para que a Justiça seja feita: “Vamos procurar Justiça porque eu não quero que nenhuma outra família passe por isso que a gente está passando porque é muito dolorido. Estou despedaçada”.

Despedida

O corpo de Claudineia será velado nesta segunda-feira (17) em Contagem, na Grande BH. A despedida está marcada para 8h na Capela Metromax, na avenida João Cesar de Oliveira, 1228, no bairro Eldorado. O enterro vai acontecer no Cemitério do Bonfim, na região Noroeste.

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Veja na íntegra a nota do médico

“A cirurgia plástica foi realizada na quinta-feira, 13 de fevereiro, em um hospital-dia localizado no Condomínio Lifecenter, em Belo Horizonte. O local possui autorização para a realização segura de diversos procedimentos médicos.

As intervenções foram feitas sob anestesia geral, que exige intubação. Essa escolha foi necessária visto que a anestesia peridural não foi completamente eficaz, conforme identificado pela anestesista. Ou seja, não houve perfuração da traqueia da paciente pelo cirurgião plástico. A intubação foi realizada pela anestesista como um procedimento padrão para a cirurgia.

A equipe médica não identificou nenhuma intercorrência durante o procedimento, que foi concluído e a paciente foi encaminhada ao quarto para observação e recuperação, conforme protocolo pós-operatório padrão.

Duas horas após a internação no quarto, a equipe observou inchaço na face da paciente, compatível com um quadro de anafilaxia (reação alérgica), e todas as medidas necessárias foram tomadas. Diante da evolução do quadro, mesmo com suporte médico devido, o cirurgião estando presencialmente com a paciente recomendou a internação emergencial em um hospital com maior estrutura.

O cirurgião atribui o agravamento do caso à demora no tratamento efetivo, ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais após a cirurgia plástica e que estão listadas a seguir. Durante todo o período após a cirurgia, ele manteve contato próximo com a família, prestando apoio de forma ética e empática.

Esclarecimentos principais

O cirurgião perfurou a traqueia da paciente?

Não. A intubação foi realizada pela anestesista, como procedimento padrão para a cirurgia.

O cirurgião realizou a plástica em uma clínica?

Não. A cirurgia foi realizada em um hospital-dia localizado no Condomínio Lifecenter, em Belo Horizonte.

O cirurgião tinha conhecimento da lesão na traqueia?

Não. Durante a cirurgia plástica, não houve qualquer intercorrência que indicasse essa complicação.

Por que o cirurgião recomendou a transferência da paciente para um serviço de emergência?

Devido à gravidade do quadro de anafilaxia e à falta de resposta ao tratamento.

Quando o cirurgião tomou conhecimento da gravidade do caso?

A gravidade do caso foi confirmada após a realização da tomografia, indicada por outro serviço de saúde, quando o diagnóstico inicial de anafilaxia foi descartado.

Linha do tempo das transferências da paciente

Após a recomendação de transferência pelo cirurgião, a paciente deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital Lifecenter, localizado no mesmo complexo do hospital-dia. Durante o atendimento, a equipe de plantão também suspeitou de anafilaxia e conduziu o tratamento com base nesse diagnóstico. No entanto, como a operadora de saúde da paciente não era aceita pelo hospital, a família optou por transferi-la para o Pronto Atendimento do Hospital MedSênior, na Pampulha. Como não havia risco imediato à vida, as equipes do Hospital Lifecenter e do cirurgião apoiaram a transferência.

No MedSênior, a equipe de emergência ampliou a investigação diagnóstica, pois o quadro continuava evoluindo mesmo com o tratamento para anafilaxia. Após a realização de uma tomografia, foi identificada lesão na traqueia e recomendada a internação para cirurgia torácica. No entanto, devido ao período de carência do plano de saúde da paciente e à ausência de risco iminente à vida naquele momento, a recomendação foi transferi-la para um hospital público (SUS).

Nesse ponto, a operadora já havia acionado uma ambulância para a transferência. Inicialmente, a família recusou a remoção, mas, após nova avaliação da necessidade, aceitou. Entretanto, foi necessário acionar outra ambulância, o que resultou em um atraso de aproximadamente duas horas na transferência para o Hospital Alberto Cavalcanti, localizado no Padre Eustáquio, isso na sexta-feira (14/02). No sábado (15/02), a paciente passou por um procedimento pela cirurgia torácica mais invasiva, sofreu duas paradas cardíacas e, infelizmente, faleceu.

A anestesista mencionou ao cirurgião algumas hipóteses para a perfuração da traqueia, que são descritas na literatura médica como riscos inerentes à manipulação da via aérea para intubação. Entre elas, estão possíveis lesões causadas pela guia utilizada para a intubação ou ruptura provocada pelo próprio tubo.

Em observação ao sigilo médico e à LGPD o cirurgião não cita o nome da paciente e de seus familiares e nem maiores detalhes sobre o procedimento. No entanto, coloca-se à disposição para o esclarecimento dos fatos.”


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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.
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