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Mulher acusada de aplicar vacina falsa da Covid em BH acusa empresários de organizarem esquema

Cláudia Mônica Torres foi interrogada durante audiência de instrução nesta quarta-feira (4); ela é acusada de aplicar imunizantes falsos em empresários da capital mineira durante a pandemia

A falsa enfermeira Cláudia Mônica Torres, acusada de aplicar dezenas de falsas vacinas contra a Covid-19 em empresários de Belo Horizonte, prestou depoimento nesta quarta-feira (4), em uma nova audiência de instrução do caso.

Durante o interrogatório, a mulher negou os crimes e alegou que apenas prestava serviço para os empresários. Segundo a acusada, ela sempre atuou como técnica de enfermagem em uma empresa de imunizações em São Paulo.

Quando veio para Belo Horizonte, a mulher disse que começou a prestar serviços para os clientes da capital mineira que havia conhecido quando ainda trabalhava em São Paulo. Ela contou que a empresa paulista costumava ser contratada por companhias de BH para atuar em campanhas de vacinação contra Pneumonia, H1N1 e Hepatite. Por isso, os empresários tinham o contato dela.

Cláudia alegou que, durante a pandemia, foi procurada pelos empresários para prestar um novo serviço de aplicação de vacinas. Ela disse que quando chegava aos locais de imunização, as vacinas já estavam lá, em caixas térmicas, cabia a ela apenas aplicá-las. A falsa enfermeira garantiu, ainda, que não sabia que tratava-se de imunizantes contra a Covid-19.

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A acusada confirmou que esteve em várias empresas, condomínios e apartamentos para aplicar as vacinas. Ela também não negou que recebeu o valor do serviço em sua conta bancária, mas disse que acreditava que o pagamento era lícito, pois se referia ao trabalho prestado.

Ela alega que eram os empresários, que figuram como vítimas no processo, que organizavam a lista das pessoas que seriam vacinadas - todas de alto poder aquisitivo, como políticos e empresários - e negociava o valores das aplicações. Ainda de acordo com Cláudia, os responsáveis pelo esquema a abandonaram após a repercussão do caso.

Fase de instrução foi encerrada

A Justiça também ouviu os outros três acusados no processo: o companheiro dela, Ricardo Almeida, o filho, Igor Torres, e Júnior Guimarães, que atuou como motorista durante a falsa vacinação.

Em seu depoimento, o marido de Cláudia contou que é músico, compositor e produtor. Ele disse que não tinha qualquer conhecimento das atividades da esposa e alega que perdeu negócios em função do processo.

Após todos os acusados serem ouvidos, a Justiça encerrou a fase de instrução do processo. Ainda nesta quarta, a Justiça pediu para que o Banco Central informe a situação das contas bloqueadas dos réus, que alegam que a origem do dinheiro de algumas contas era lícita, já que o montante teria sido obtido por venda de imóveis e indenização judicial anterior.

Assim que as diligências forem cumpridas, será aberto o prazo para a alegação final da defesa dos réus e da acusação. Posteriormente, o juiz irá analisar o caso e proferir a sentença. Não haverá sessão de julgamento.

Vacina era soro fisiológico

Em junho de 2022, a Justiça aceitou denúncia contra Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas e mais cinco pessoas por estelionato, associação criminosa, uso de documento falso e lavagem de dinheiro. Todos foram denunciados pelo Ministério Público.

Ela participou de uma vacinação clandestina contra a Covid-19, em março de 2021, quando apenas profissionais da saúde e idosos estavam sendo vacinados em Belo Horizonte. Cláudia Mônica e os outros envolvidos enganaram empresários e familiares, oferecendo doses de vacinas que, na verdade, eram soro fisiológico. A falsa vacinação aconteceu em uma garagem de ônibus em Belo Horizonte, e também na casa de empresários.

Investigações

Durante as investigações da Polícia Federal (PF), a corporação concluiu que o companheiro dela Ricardo Almeida, o filho Igor Torres e Júnior Guimarães, que atuou como motorista durante a falsa vacinação, cometeram os crimes de estelionato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Vagner Torres e Daniele Torres, também parentes de Cláudia, foram denunciados por associação criminosa e lavagem de dinheiro. O grupo teria movimentado R$ 700 mil.

Segundo as investigações, a falsa enfermeira aplicou um golpe em quem tomou a substância aplicada por ela. Empresários mineiros chegaram a pagar R$600. Na época do esquema, o imunizante ainda engatinhava para chegar em grande escala no Brasil, priorizado para idosos e grupos de risco. Durante o inquérito, foi constatado que as pessoas que contrataram a falsa enfermeira receberam soro fisiológico ao invés de vacina.

Cláudia Mônica Torres chegou a ficar presa por cerca de cinco dias, entre março e abril de 2021, no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, no bairro Horto, em Belo Horizonte. Ela deixou o presídio após o Tribunal Regional Federal (TRF-1) conceder liberdade provisória a então investigada.

*Com informações de Célio Ribeiro


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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.
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