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Entrevista: Inovação no mercado imobiliário

Depois de anos como executivo, capixaba com raízes em Minas volta a empreender e cria uma proptech diferenciada

Ramon Azevedo, 42 anos, é um capixaba que encontrou em Belo Horizonte seu lar profissional e pessoal. Com uma trajetória marcada por um profundo interesse pela tecnologia e pelo empreendedorismo, hoje ele é CEO da Morada.ai, uma proptech (startup da área de propriedades) fundada em 2021, especializada em Inteligência Artificial (IA) para o mercado imobiliário na América Latina, que acaba de receber um aporte de R$ 6 milhões, em rodada de investimentos liderada pela Nexus Empreendimentos.
Nesta entrevista ao CIDADE CONECTA, Ramon conta mais sobre a sua trajetória.

Qual é a sua primeira memória de interesse e curiosidade pela tecnologia?

Desde criança, eu tinha curiosidade em desmontar aparelhos eletrônicos como ferros de passar para entender como funcionavam e, depois, consertá-los, e daí começar a ganhar um dinheirinho. Com 12 anos, comecei a aprender a programar sozinho, lendo livros de Clipper. Meu pai, que era motorista de carreta, fez um consórcio de computador e felizmente fomos sorteados. Foi assim que tudo começou.

E como foi o seu primeiro contato com o desenvolvimento de tecnologias?

Foi na adolescência, quando criei um software para gerenciar salões para festas no bairro onde eu morava. Mas profissionalmente, meu primeiro contato foi em um estágio vinculado a um curso técnico de informática que eu estava fazendo por volta dos 15 anos. Vi uma oportunidade no jornal, não tinha todo o conhecimento exigido e estudei durante todo o fim de semana para me preparar. Passei na seleção e comecei como programador desenvolvendo jogos educacionais para escolas. A internet estava crescendo e me aventurei na criação de sites de e-commerce como autônomo, foi dessa forma que, aos 18 anos, consegui o dinheiro para comprar meu primeiro carro à vista.

Em 2005, você entrou na Fundep (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa da UFMG) como programador, logo foi promovido a diretor de tecnologia, e participou da criação da Fundepar. Conte um pouco sobre essa história.

Foi uma experiência marcante. Assumir a diretoria de tecnologia, em tão pouco tempo, foi uma grande responsabilidade, já que eu tinha apenas 25 anos e liderava um time com pessoas que tinham 50 anos ou mais. Na Fundepar (Fundep Participações S.A), que é uma venture capital ligada à Fundep, me confiaram o cargo de CEO e pude investir todos os meus esforços ali. Tenho muito orgulho de três iniciativas que realizamos na Fundepar: criamos o primeiro fundo de seed money do Brasil, o programa de pré-aceleração de startups Lemonade, que teve 17 edições, e um centro de biotecnologia, o BiotechTown, com um espaço de 2 mil m² e total infraestrutura para o desenvolvimento de startups. Esses projetos fomentaram o ecossistema de inovação e contribuíram para o desenvolvimento de muitas startups no país.

Como você soube que aquele era o momento de empreender?

Antes de entrar na Fundep, passei por um momento difícil. Eu tinha uma empresa voltada para criação de sites de e-commerce, mas, infelizmente, devido a um problema pessoal, o negócio acabou não prosperando como eu imaginava. Com isso, precisei encerrar as atividades e retornei ao mercado como empregado. Mas o sonho de empreender nunca morreu. Na Kunumi, onde fui sócio e COO, consegui recuperar minha motivação nesse sentido. Lá trabalhei com Inteligência Artificial para grandes corporações muito antes do ChatGPT, quando a IA ainda não estava “na moda”, o que me inspirou a dar esse passo novamente, de criar o meu negócio. Quando encaminhamos a venda da Kunumi fundei a Morada.ai que já estava sendo planejada há um ano.

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A partir da fundação da Morada.ai, como vocês chegaram ao produto final da startup, a Mia?

Tivemos que pivotar para chegar ao modelo atual. Inicialmente, vendíamos imóveis por uma plataforma, mas logo percebemos que o mercado, principalmente para as classes C e D, exigia algo diferente. Era muito difícil fechar as vendas. Focamos, então, em criar uma solução de Inteligência Artificial para ajudar as incorporadoras a se conectarem melhor com seus potenciais compradores e clientes. Foi aí que a Mia nasceu como assistente virtual e gerou um impacto significativo nos negócios das incorporadoras, porque melhorou demais a comunicação com as pessoas.

Dizem que a Mia responde até em grego, é verdade?

Sim, é verdade (risos). A Mia foi desenvolvida com tecnologias de processamento de linguagem natural e IA, o que a permite compreender diferentes idiomas e responder de maneira relevante e clara, o que é muito útil para empresas com clientes internacionais. Mas seus benefícios vão além da habilidade multilíngue. Ela ajuda a agilizar o atendimento, oferecendo respostas rápidas, orientando os usuários em processos específicos, fazendo até orçamentos e comparação de preços. Tudo isso reduz o tempo de espera, o tempo de compra e melhora a experiência do cliente.

Qual é o maior desafio que vocês enfrentam no mercado da Morada.ai?

O maior obstáculo tem sido a questão cultural, de superar o modo tradicional em que os negócios são feitos no setor imobiliário. Ainda existe muita resistência à adoção de novas tecnologias, especialmente quando se trata de IA. Estamos conseguindo quebrar essas barreiras ao demonstrar os benefícios práticos da nossa solução, mas tem todo um esforço da nossa empresa nesse sentido, inclusive de realizar grandes eventos para incorporadoras conhecerem essa inovação; o “Morada Day” já teve sete edições. Estamos à frente de um processo de mudança de mentalidade no setor.


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