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Justiça investiga psiquiatra acusada de manipular pacientes para obter dinheiro no RJ

Ex-diretora do Instituto Pinel, teve registro cassado e continuou atendendo como psicanalista; vítima relatou que teve prejuízo de quase R$ 800 mil em empréstimos

A psiquiatra Mara Faget, ex-diretora do Instituto Pinel, no Rio de Janeiro.

Uma psiquiatra do Rio de Janeiro está sendo acusada de usar sua profissão para aplicar golpes financeiros. Mara Faget é ex-diretora do Instituto Pinel e manipulou emocionalmente seus pacientes para pegar dinheiro emprestado.

Conforme a polícia, os valores nunca foram devolvidos e uma das vítimas chegou a fazer diversos empréstimos no banco que somam R$ 92 mil. Segundo ela, Mara procurou a psiquiatra em 2014 para tratar uma compulsão por compras e a psiquiatra usava as sessões para relatar supostos problemas pessoais, como doença na família e problemas financeiros. Durante as conversas, ela pedia ajuda em dinheiro para as clientes.

“Eu tive confusão mental. Minhas primas perceberam que havia algo errado. Aí foi que eu falei: ‘Bom, a Mara me pediu dinheiro e está em cima de mim’”, disse ela em entrevista ao Fantástico nesse domingo (25).

Ainda de acordo com a vítima, Mara contou que o marido estava doente e que o plano de saúde não estava cobrindo. “Aí ela me pediu dinheiro dentro da consulta de psicanálise”.

A mulher chegou a fazer empréstimos no banco que somaram R$ 92 mil.

“Eu comecei com cinco mil, depois ela foi pedindo”", conta. “E eu fiquei então insolvente e fui morar de favor na casa da minha prima”.

Agora, Mara foi indiciada por crime de estelionato e, após dez anos do primeiro empréstimo, reconheceu a dívida de R$ 90 mil e fez um acordo judicial para pagá-la de forma parcelada. Em 2021, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) cassou seu registro, mas mesmo assim, Mara continuou atendendo pacientes em seu consultório, localizado no Leblon.

Vale destacar que agora, Mara se apresenta como psicanalista, profissão que não exige diploma médico.

Em outro caso, a médica teria tido um caso com a filha de uma paciente idosa e, por meio dela, obtido altos valores sob a justificativa de resolver questões ligadas à herança de um suposto marido falecido. A família disse que os prejuízos chegaram a R$ 800 mil. Neste caso, a Justiça determinou o pagamento de R$ 950 mil, mas a dívida não foi quitada porque não foram localizados bens em nome da médica.

Falso diagnóstico

Familiares que sofreram prejuízos financeiros, acusam Mara de ter medicado indevidamente uma paciente idosa, com o diagnóstico falso de Alzheimer. Em uma consulta com outra médica, foi constatado que a paciente sofria de depressão, e não demência.

Em 2023, ela voltou a ser denunciada por usar indevidamente o nome e o carimbo de outra médica em uma receita emitida no Instituto Pinel. A Secretaria Municipal de Saúde informou que Mara não tem vínculo com a instituição desde 2018.

Paciente jornalista investiga o caso

O caso foi investigado primeiramente por uma de suas ex-pacientes, a jornalista Laren Aniceto, após descobrir que ela continuava atuando irregularmente. Durante sua apuração, foram 38 entrevistas, que viraram seu trabalho de conclusão de curso. Ela também alega que a ex-médica emitiu recibos com CRM cassado.

“Ela falou também que o pai dela era um imigrante francês que produzia vinhos e que veio para o Brasil. Então, é, essa foi outra mentira que eu descobri, que a família dela inteira é de Bagé. Ela precisava dessa história para engrandecer a origem dela de alguma forma e que contava assim para outras pessoas”, conta.

Procurada pelo Fantástico, a defesa de Mara Faget nega todas as acusações e afirma que “as denúncias carecem de respaldo fático ou jurídico”. Também disse que ela “jamais atuou como médica sem registro” e que irá recorrer judicialmente para restabelecer o CRM.

Segundo o Cremerj, uma pessoa com o registro cassado não pode exercer a medicina nem se apresentar como médica. Caso o faça, configura-se crime de exercício ilegal da profissão.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.