Um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), intitulado “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil 2017-2023", revela um preocupante crescimento nos índices de analfabetismo infantil. A pesquisa, baseada em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, mostra que a taxa de crianças entre 7 e 10 anos que não sabem ler e escrever subiu de 14% para 30% entre 2019 e 2023. Além disso, quatro milhões de crianças e adolescentes enfrentam defasagem escolar, enquanto 619 mil se encontram em condição de extrema privação educacional.
Em entrevista ao Jornal da USP, publicada nessa terça-feira (4), a professora Carlota Boto, especialista em Filosofia da Educação e diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, destaca que a pandemia da Covid-19 teve impacto significativo no atraso da alfabetização infantil.
“O aumento das taxas de analfabetismo entre crianças de 7 a 10 anos está, em parte, relacionado à pandemia. Essas crianças, que na época tinham entre 5 e 6 anos, ficaram impossibilitadas de frequentar a escola, comprometendo sua preparação para o processo de alfabetização”, explica.
A busca por soluções para reverter esse cenário tem sido um tema recorrente em debates na universidade. Para Carlota Boto, o investimento público é fundamental para minimizar os impactos negativos da pandemia na educação infantil. “Precisamos de um forte investimento na qualidade do ensino, na formação de professores e em uma remuneração justa para esses profissionais. Medidas específicas devem ser adotadas para compensar a deficiência no acesso à escolarização durante o período pandêmico”, aponta a especialista.
Apesar do impacto da crise sanitária, a professora alerta que a defasagem educacional não deve ser atribuída exclusivamente à pandemia. A educação brasileira enfrenta desafios estruturais históricos que também influenciam o atraso no aprendizado. Boto reforça a necessidade de considerar a progressão gradual do letramento para efetivar estratégias de recuperação.
*com informações do Jornal da USP