Tempos do medo
Vivemos um tempo de medo. Pela natureza da profissão, onde quer que vá, a qualquer hora ou dia, tenho de emprestar ouvidos para mais um desabafo.
Vivemos um tempo de medo. Pela natureza da
profissão, onde quer que vá, a qualquer hora ou dia, tenho de emprestar
ouvidos para mais um desabafo. Moças da zona Sul têm medo de esperar no
ponto do ônibus, ainda que seja em ruas das mais movimentadas do Santo
Antônio, do Cruzeiro, do Anchieta ou do Sion. Senhoras da periferia se
desesperam toda vez que uma moto se aproxima, quando estão entre a
residência e o trabalho, as 5, 6 horas da manhã, porque temem mais um
assalto. Drama que só aumenta no horário de verão quando as madrugadas
são mais escuras, bem ao gosto dos marginais. O empresário,
especialmente o que tem loja de rua, caso de padarias e farmácias, fica
só esperando a chegada dos assaltantes, apesar de grades, câmeras e
apelos. Os frentistas de postos de gasolina rezam o credo quando saem de
casa, sem saber se voltam. E o medo das mães, dos pais, com seus filhos
nas ruas, expostos?
Estamos então com medo de ir ao campo porque os
bandidos, travestidos de torcedores, quebram, agridem, roubam,
infernizam e impedem uma festa de 100 mil pessoas; temos medo de ir
trabalhar ou estudar porque qualquer grupo de manifestantes, ainda que
seja de três ou cinco pessoas, pode fechar a Praça Sete, a qualquer hora
do dia ou da noite, sem cerimônias, e os poucos policiais que estiverem
por lá cuidarão de proteger os manifestantes, ignorando o caos que
imediatamente toma conta de toda a cidade. Temos medo de comprar um
imóvel porque, se invadido, ainda que consigamos ordem judicial para
despejo, a PM não vai tirar ninguém. O fiscal da Prefeitura que tentou
barrar a venda clandestina de cigarros em pleno centro anteontem foi
esfaqueado; os taxistas já começam a comprar armas para se defender.
Temos
medo. De tudo. Se um amigo chega sorrateiramente e nos dá um tapa nas
costas pode provocar um infarto. Mas, o pior é que estamos vivendo o
tempo do medo de tomar decisões. Reparem: ninguém assume nada. A mesa da
Câmara Federal não teve coragem de cassar o Donadon que se tornou o
primeiro preso deputado ou deputado preso da história. A mesma Câmara
esperou a renúncia de Genoíno, outro da “bancada da Papuda” para não ter
que cassá-lo. Aqui na Assembleia, o sempre falante Diniz Dinheiro fica
mudo se o assunto é helicóptero e, no muito, assina nota oficial. Na
Câmara de Belo Horizonte, os colegas evitam o acusado de assédio sexual
sem, contudo, ter coragem de dizer que o melhor para ele, a família e os
amigos é a renúncia. Sobre as manifestações em Belo Horizonte, o
governador me disse ontem que há uma decisão do Supremo proibindo a
proibição delas. Só faltava essa... E agora, uma dúvida me assombra:
qual é o político mineiro que vai ter coragem de ir lá conversar com o
Barbosa, o Joaquim, o chefão do Supremo sobre o assunto?