Também quero 'cornetar'
De acordo com o dicionário popular, quem corneta fala a respeito, se mete, enfim, zoa, dá palpite.
De acordo com o dicionário popular, quem
corneta fala a respeito, se mete, enfim, zoa, dá palpite. Considerando
que sou pagador de impostos do país onde cada um de seus 200 milhões de
habitantes é um técnico em potencial e o futebol é a paixão nacional,
também quero meter o meu bedelho nesta discussão sobre os rumos de nossa
“instituição” mais polêmica – a seleção. Vou falar apenas por falar
porque, assim como os políticos e as reformas, jamais os nossos
dirigentes esportivos farão aquelas que são verdadeiramente necessárias.
Para
mudar a seleção, é preciso mudar o rumo da CBF. Primeiro, uma relação
mais profissional e honesta na escolha dos mandatários. Depois, gastar
menos na Granja Comary (nunca fui lá, mas, sinto que é um palácio onde
mordomia é sinônimo de rotina) e mais na descentralização, criando – a
exemplo da Alemanha – centros de treinamento e estímulo ao surgimento de
novos talentos, o que, no passado, era feito espontaneamente por nossos
campinhos de várzea destruídos pela especulação imobiliária e a
urbanização desenfreada do país.
O técnico, ou melhor, a comissão
técnica deveria ser reduzida ao máximo e o comandante ser um sujeito
novo, de mente arejada – tipo Marcelo Oliveira ou Nei Franco – capaz de
percorrer o mundo aprendendo as boas ações e, com humildade, adaptando
ao nosso jeito de jogar – que continua único- incomparável e melhor do
mundo. O que precisamos está fora das quatro linhas. É planejamento,
organização, seriedade. Outra coisa: é preciso que alguém tenha coragem
de aprovar uma lei estabelecendo que o atleta só possa se transferir
para o exterior depois de 25 anos de idade ou cinco de atuação como
profissional, aqui, no Brasil, para que ele tenha mais identificação com
a seleção, com a torcida. Afinal, como nos apaixonar por Davi Luís,
Luiz Gustavo, Hullk, Dante e outros que a gente só descobriu quando já
estavam lá fora?
Ah, é preciso também criar mecanismos legais
(se culturais não vierem) determinando que jogador de seleção receba
apenas o salário de seu clube – que já é altíssimo – e não deve esperar
por premiação nas conquistas... Quer prêmio maior que representar seu
país, ganhar fama e fortuna na vida profissional? Quando convocado, o
jogador deverá concordar em adotar o visual padrão, que combine com a
equipe... Afinal, não formam um time? Quem quer ganhar o pão na
televisão não tem de colocar terno e gravata, querendo ou não? O
uniforme na escola, a roupa especial do médico?
Respeitadas as
individualidades, será de bom tom evitar cortes de cabelo engraçadinhos,
tatuagens extravagantes e um monte de outras firulas, que fogem ao
objetivo número um: concentrar, vencer e, se não for possível, pelo
menos deixar uma boa imagem. Um bom exemplo. Tinha outras questões, mas,
acreditar que a CBF vai me ouvir é a mesma coisa que esperar alteração
nas regras eleitorais deste país a partir do Congresso... O que conta,
na seleção e na nação, é segurar a boca, manter o privilégio e enrolar a
massa.