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Brasil avança na integração de biocombustíveis com atualização da RenovaCalc

Ferramenta nacional amplia módulos e aproxima o país das exigências do mercado internacional

Melhorias foram desenvolvidas pelo Projeto “Aprimoramento da RenovaCalc”

O Brasil está cada vez mais alinhado com os parâmetros internacionais que calculam a intensidade de carbono dos biocombustíveis. A atualização da ferramenta RenovaCalc, instrumento oficial para medir o carbono de biocombustíveis produzidos no país, ganhou novos módulos, aumentando a compatibilidade com parâmetros como os definidos pelo Programa da Organização da Aviação Civil Internacional (Corsia).

A atualização foi apresentada no artigo científico “Advancing RenovaCalc: the Brazilian tool for calculating the carbon intensity of sustainable fuels in alignment with international policies”, publicado no início de 2025. O estudo detalha a ampliação do módulo HEFA (Hydroprocessed Esters and Fatty Acids), usado para estimar a pegada de carbono de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF) produzidos a partir de óleos vegetais e gorduras residuais.

As melhorias foram desenvolvidas pelo Projeto “Aprimoramento da RenovaCalc”, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente, e deverão ser incorporadas à versão pública da ferramenta, após as etapas de validação e consulta pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), previstas até 2026.

“A versão atual da ferramenta considerava principalmente a soja como matéria-prima, mas a nova versão incorporou também o óleo de palma, permitindo análises mais abrangentes e representativas da diversidade agrícola brasileira”, explicou a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Marília Folegatti.

Abertura internacional

A RenovaCalc é o instrumento que embasa a certificação dos produtores de biocombustíveis no âmbito da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Ela permite calcular a intensidade de carbono no ciclo de vida do biocombustível e define o volume de créditos de descarbonização (CBIOs) que cada produtor pode emitir. Essa lógica faz com que o desempenho ambiental se traduza em valor econômico no mercado, incentivando práticas mais sustentáveis.

Gabriela Ciribelli explicou que, ao incorporar o módulo HEFA e alinhar suas métricas ao CORSIA, o Brasil abre caminho para a integração de seu sistema nacional às cadeias globais de aviação sustentável, um setor que vem crescendo rapidamente diante das metas de descarbonização impostas pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). O CORSIA, implementado a partir de 2021, exige que as companhias aéreas neutralizem suas emissões adicionais de CO₂, e o uso de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF) é uma das principais estratégias para atingir esse objetivo.

A convergência entre a RenovaCalc e o CORSIA também tem potencial de ampliar as oportunidades de exportação para o Brasil, ao permitir que seus combustíveis certificados sejam reconhecidos internacionalmente. Isso significa que biocombustíveis produzidos sob as regras da RenovaBio poderão, com ajustes, atender às exigências do mercado aéreo global.

O artigo ressalta, contudo, que a harmonização completa exige superar desafios regulatórios e metodológicos. Um dos pontos mais sensíveis é a contabilização das mudanças indiretas no uso da terra, que ainda gera divergências entre abordagens nacionais e internacionais. Outro desafio está na definição de créditos de carbono equivalentes entre diferentes sistemas de certificação, para evitar dupla contagem e garantir transparência nos mercados de compensação.

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*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.