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“Tarifaço” de Trump: carne bovina, suco de laranja e etanol devem ser impactados

Os principais produtos afetados seriam aqueles em que o Brasil é dominante no mercado dos Estados Unidos, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

O agro brasileiro é um dos setores que serão impactados pelo “tarifaço” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciado na quinta-feira (2). Para o Brasil, será cobrada uma taxa de 10% para todos os produtos.

Antes do anúncio da medida, os produtos do agronegócio brasileiro contavam com alíquotas nominais médias de 3,9% do valor do produto. Com o acréscimo, estas taxas passarão à 13,9%, afetando a competitividade de artigos brasileiros.

Especialistas e entidades do agro analisaram quais devem ser os impactos no setor. Segundo o economista sênior do Inter, André Valério, a medida pode até beneficar o Brasil.

‘O Brasil tende a ganhar market share de suas exportações, à medida que essas regiões direcionem suas demandas para outro lugar, particularmente o agro, que sofre grande competição com o agro americano’, disse à Itatiaia.

Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) mostrou preocupação com o cenário e apontou quais devem ser os principais produtos afetados. Entre eles as commodities agrícolas como café e carne bovina, ‘que compõem itens sensíveis na relação bilateral’.

A preocupação é maior com os produtos siderúrgicos e com o alumínio, que já são afetados por um imposto de 25% anunciado por Trump em março.

Análise CNA

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também analisou o impacto do “tarifaço” de Trump no setor agropecuário.

Segundo a entidade, apesar do acréscimo, o Brasil estará em uma posição melhor, se comparado aos casos em que os EUA importam produtos de mercados que contarão com taxas maiores, como é o caso dos bens da União Europeia que receberão sobretaxas de 20%.

“Os produtos mais afetados serão os que o Brasil já é altamente representativo no total das importações dos EUA, isso porque, nestes casos, o Brasil não teria “espaço” para ganhar de um eventual concorrente, sendo o único ou principal país afetado. É o caso dos sucos de laranja resfriados e congelados, onde o Brasil responde por 90% e 51% das compras americanas, respectivamente; da carne bovina termo processada, com 63%; e do etanol, com 75%", destacou a CNA sobre os três principais produtos impactados.

O resultado da análise da CNA mostrou que os principais produtos impactados seriam justamente aqueles em que o Brasil é dominante no mercado dos EUA, como por exemplo os sucos de laranja e outras frutas, o etanol e o açúcar – que concorrem em parte com a produção interna dos EUA.

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“Apesar disso, o método não considera a possibilidade de desvios de comércio gerados por ganhos de competitividade nos casos em que os concorrentes brasileiros enfrentem maiores tarifas. Logo, os resultados refletem um cenário em que as perdas e ganhos seriam assumidas e em que todo o contexto permanecesse constante”, acrescentou.

Após a análise dos produtos que devem ser impactados, a CNA informou que ainda é precipitado avaliar eventuais perdas ou ganhos para o Brasil com o anúncio das tarifas recíprocas pelos EUA, visto que a alteração tarifária afeta todos os países do mundo, inclusive grandes exportadores de produtos agropecuários.

“Cabe destacar que novas tarifas podem ser impostas, caso o governo dos EUA considere que as medidas anunciadas não sejam eficazes na resolução do déficit comercial geral. Como a ordem executiva cita que a eventual redução de medidas significativas para corrigir arranjos comerciais não recíprocos poderá diminuir ou limitar o escopo das tarifas impostas, cabe ao governo brasileiro seguir explorando a via negociadora com os EUA para buscar mitigar as tarifas anunciadas e alcançar benefícios mútuos para ambas as nações.

Instrumentos de proteção para medidas retaliatórias e barreiras unilaterais, como o que será alcançado por meio do PL nº 2088/2023 (PL da Reciprocidade), aprovado pelo Congresso e que seguirá para sanção presidencial, devem ser utilizados apenas após o esgotamento dos canais diplomáticos, para defender os interesses brasileiros.

A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) defende o livre comercio por meio de acordos que diversifiquem mercados, aumentem a renda dos produtores e ampliem o acesso de produtos agropecuários ao consumidor”, concluiu em nota à CNA.

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
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