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Assentados celebram primeira safra de arroz agroecológico após enchentes no RS

Aproximadamente 290 famílias de 17 assentamentos em 11 municípios gaúchos participaram da festa na última quinta-feira (20)

A colheita da primeira safra de arroz de Porto Alegre, após as enchentes de maio do ano passado que devastaram as lavouras da região, foi celebrada na 22ª Festa da Abertura da Colheita do Arroz Agroecológico. A festa ocorreu na quinta-feira (20), no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS).

O evento promovido pelo Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, entidade organizada pelas famílias assentadas, já é tradicional na região. A expectativa é colher cerca de 14 mil toneladas, cultivadas em 2.850 hectares, resultado considerado pelo Grupo como muito positivo para a retomada.

‘Voltamos a produzir e com excelência’, comemora Nelson Krupinski, da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e do Grupo Gestor do Arroz. Ele lista três fatores que contribuíram para esta produtividade: o clima favorável, o manejo tecnológico adotado pelo Grupo Gestor e o uso de bioinsumos.

O manejo das lavouras tem sido aprimorado por meio de pesquisa junto às famílias e parceria do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Produção em números

Nesta safra 2024/2025, a produção do arroz orgânico envolveu 290 famílias de 17 assentamentos em 11 municípios gaúchos. O grão é beneficiado pelas cooperativas dos agricultores assentados e comercializado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e também em feiras, supermercados e na rede de lojas Armazém do Campo.

A festa acontece no maior assentamento do Rio Grande do Sul, onde está a lavoura mais extensa de arroz orgânico da reforma agrária. Criado em 1998, em uma área de 9,5 mil hectares com 375 famílias, o projeto Filhos de Sepé não utiliza venenos na plantação.

Auxílio às famílias

A organização das famílias por meio das cooperativas, do Grupo Gestor do Arroz e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) auxiliou na retomada da produção. Diante da destruição com as enchentes no ano passado, a resiliência foi determinante.

‘Perdemos 30% da produção. Tivemos vários danos na parte da infraestrutura. Pensamos: vamos ver o que tem e fazer o que a gente sabe fazer’, lembra Kruprinski.

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Para esta safra, as famílias providenciaram o que foi possível. ‘Teve área bombeando água de trator, canais feitos na última hora’, conta o agricultor.

Dois convênios realizados entre o Incra/RS e as prefeituras municipais de Eldorado do Sul e Nova Santa Rita vão apoiar a reconstrução da infraestrutura para as próximas safras. As parcerias vão destinar ao todo R$ 4,3 milhões para o auxílio, recursos abertos pelo Governo Federal em crédito extraordinário.

Em outra frente de auxílio do Governo Federal, Krupinski ressalta a doação de 718,8 toneladas de sementes de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em outubro de 2024, que viabilizou a safra. Para além do apoio após a tragédia, o agricultor pondera: ‘falta política pública de enfrentamento da crise climática’.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.
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