Minas está longe de ser um grande produtor. Mato Grosso lidera a produção nacional entregando cerca de 70% do volume total. Os outros 30% se dividem entre Bahia com 21% e, na sequência, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí, São Paulo, Tocantins, Ceará, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraná e Pernambuco.
Estamos falando do algodão. Vocação e vontade de aumentar a produtividade não faltam, uma vez que a planta se desenvolve bem em regiões secas, como é o caso do Vale do Jequitinhonha e a topografia plana facilita a mecanização. Em 2002, o governo do Estado criou o Proalminas com o objetivo de fomentar o retorno do plantio do algodão no Estado, interrompido após a crise enfrentada pelo setor na década de 90. Entre 2011 e 2013, os cotonicultores mineiros tiveram, novamente, grandes prejuízos devido a intensos ataques da praga “Helicoverpa armigera”, que dizimou as lavouras”, relatou Feliciano.
De lá pra cá, com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura, foram intensificadas as ações e projetos como os de combate às pragas, apoio ao pequeno produtor, sustentabilidade, boas práticas na produção, pesquisa, certificação, biotecnologia e análise da qualidade da pluma.
Unidades Demonstrativas ajudam a testar as novas tecnologias
Três unidades técnicas demonstrativas de 0,5 hectare cada uma foram implantadas em Berilo, Jenipapo de Minas e Francisco Badaró, com o objetivo de adequar e validar as novas tecnologias para o cultivo do algodão no Vale.
Uma delas fica na propriedade do produtor João Paulo Esteves, em Jenipapo de Minas. “Está sendo uma experiência nova pra mim e tenho aprendido muito. Plantamos em janeiro, colhemos em julho e a produtividade ficou em torno de 320 arrobas por hectare. Quero plantar de novo”, afirma.
O produtor José João Lopes de Almeida, de Berilo, também ficou satisfeito com o resultado. “Foi uma coisa ótima. Tivemos o apoio de todos os técnicos e a produtividade foi muito boa”.
Programa oferece insumos e componentes para irrigação
Além de levar tecnologias para o trato cultural das lavouras, o Proalminas, em parceria com a Amipa, tem viabilizado os insumos e os componentes para a instalação da chamada irrigação ‘de salvamento’. Com baixo volume de chuvas, a estrutura de irrigação é fundamental para garantir a oferta de água nos períodos críticos de seca, evitando o comprometimento da produtividade.
Artesãs estão animadas com a perspectiva de terem mais matéria- prima
O resgate do cultivo do algodão também vai impactar positivamente no artesanato, outra importante atividade econômica e social do Vale. É que as artesãs poderão pegar a matéria-prima para fazer tapetes, forros de mesa, panos de prato e roupa de cama, no quintal da casa dos amigos e vizinhos.
Filha de produtora de algodão e fiadeira, Ivone Machado da Silva lida com o artesanato desde os 8 anos, quando ainda morava na comunidade quilombola de Roça Grande no município de Chapada do Norte. Atualmente, morando em Berilo, ela vê com otimismo as ações para ampliar o cultivo. “A produção ainda está ‘descalçada’. Essa iniciativa vai facilitar nosso trabalho, não só em nossa comunidade, mas em todo o município”, avalia.
“A gente encontrou a felicidade de novo, a gente vai seguir essa felicidade se Deus quiser. Já novelei hoje uns novelinhos, e tô amando o grupo de fiata aqui na comunidade. Nossa… é bom demais fiar, gostoso demais fiar, descaroçar, bater algodão, é uma bênção esse algodão.”
Depoimento de Maria Pereira Moreira, conhecida carinhosamente por Mariinha, que é a agricultora e fiandeira da comunidade do Curtume. O grupo Fiandeidas do Jequitinhonha é uma ação realizada com recursos do Projeto Fiandeiras do Vale do Jequitinhonha aprovado no Edital 08 da Lei Paulo Gustavo no âmbito do Estado de Minas Gerais.
Produção se aproxima das grandes regiões produtoras
Atualmente, os agricultores familiares da região produzem, em média, 318 arrobas de algodão por hectare. O superintendente de Inovação e Economia Agropecuária da Secretaria de Agricultura (Seapa) e coordenador do Proalminas, Feliciano Nogueira de Oliveira, não sabe dizer quanto o Vale produzia antes do programa, mas garante que esse é um volume próximo do alcançado pelo cultivo empresarial nas maiores regiões produtoras do estado. “É natural a ocorrência de avanços e retrocessos em se tratando de atividade a céu aberto, sujeita a adversidades climáticas, pragas e doenças nas lavouras”.
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