Ouvindo...

Indústria ‘descobre’ versatilidade do grão que vira combustível, pneu e tênis de corrida; entenda

Estudos demonstram, cada vez mais, a possibilidade de expandir sua produção para usos não alimentares. E o que é melhor, com uma ‘pegada’ ambiental.

A soja tornou-se uma alternativa atraente para substituir matérias-primas derivadas do petróleo

O engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Agro Sustentável, do Comitê Estratégico Soja Brasil e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, Décio Luiz Gazzoni, disse que nas últimas duas décadas, a soja tornou-se uma alternativa atraente para substituir matérias-primas derivadas do petróleo, em produtos como borrachas, fibras, plásticos, revestimentos, solventes, lubrificantes e adesivos. E, segundo ele, a demanda deve aumentar ainda mais com o avanço da chamada “Química Verde”, que busca sucessores para o petróleo.

Apelo Ambiental

Gazzoni ressalta ainda que a preferência crescente dos consumidores por matérias-primas renováveis e sustentáveis é um ponto a favor do grão. “Ela tem se mostrado mais barata que os insumos petroquímicos e apresenta emissões de gases de efeito estufa (GEE) inferiores ao petróleo, permitindo às empresas atingir mais facilmente suas metas de sustentabilidade”.

O fato de fixar seu próprio nitrogênio da atmosfera, eliminando o uso de fertilizantes nitrogenados - cujo processo é altamente emissor de GEE - é um dos pontos positivos, segundo o pesquisador. Estudos demonstram a possibilidade de expandir a produção de soja, para atender usos não alimentares em bases sustentáveis, especialmente pelo incremento da produtividade.

Décio Luiz Gazzoni, membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica, fala sobre os diversos usos da soja

Química verde

De acordo com o professor, inovações tecnológicas facilitam o ingresso da soja no mercado da chamada ‘química verde’. Ele explica que o grão tem alto teor de ácido oleico, resultando num óleo que permanece estável em altas temperaturas, fator essencial para combustíveis e lubrificantes automotivos.

Gazzoni diz que os resultados desses esforços podem ser vistos em uma explosão de novas e inovadoras aplicações de soja. Quatro categorias principais dominam o mercado de usos não alimentícios hoje — revestimentos, adesivos, tintas e fibras.

Segundo ele, são inúmeros os produtos já disponíveis no mercado, que usam soja como insumo. Em 2021 a Goodyear passou a produzir pneus com óleo de soja. Seu objetivo declarado é eliminar a dependência de petróleo até 2040, um bom indicador para a demanda futura de soja. Usando a mesma tecnologia, os tênis de corrida Skechers são produzidos com óleo de soja.

Rampa de lançamento

Fato é que diversos usos não alimentares da soja estão sendo desenvolvidos. Seu uso aumenta o bioconteúdo das formulações epóxi, substituindo solventes fósseis. Um projeto financiado pelo United Soybean Board desenvolve um produto para melhorar a resistência de epóxis ao impacto. Uma formulação de poliuretano à base de soja permite produzir vernizes e acrílicos, para acabamentos de madeira para interiores/exteriores, com resistência à umidade, chuvas e baixa emissão de COVs, a um custo mais baixo.

Gazzoni afirma que isso é apenas um recorte. Existem centenas de outros exemplos de produtos não alimentares derivados de soja. “Esses seguramente sustentarão e ampliarão a demanda da oleaginosa nos próximos anos. Uma oportunidade de ouro para o Brasil, se permanentemente comprovarmos ao mercado a sustentabilidade dos nossos sistemas de produção”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.