Ouvindo...

Pesquisa da Epamig vai permitir diversificação de rótulos dos vinhos mineiros

Empresa divulgará, em breve, estudo com as cultivares europeias mais adaptadas ao sistema de dupla poda

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) prepara-se para divulgar, em breve, o resultado de uma pesquisa de cinco anos com as cultivares de uvas europeias que apresentam boa adaptação ao sistema de dupla poda. O manejo foi instituído em 2005, pela própria Epamig, e representou um divisor de águas na produção da bebida na região sudeste.

A pesquisadora e coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Vitivinicultura da Epamig, Renata Vieira, explica que as novas cultivares vão permitir, principalmente, uma diversificação de rótulos porque a maioria dos vinhos mineiros de inverno são de uvas Syrah ou Sauvignon Blanc. “Isso é importante porque o consumidor gosta de novidades. Temos muitas e boas vinícolas, mas todas trabalhando basicamente o mesmo vinho”.

Desde 2005, a Epamig oferece um serviço para produtores de vinhos de novas áreas, como forma de acompanhar o processo de fabricação da bebida, que é detalhado e exige cuidados especiais. Funciona assim: se for aceito, o viticultor envia as uvas que são processadas para a fabricação do vinho. Uma parte da bebida é utilizada para pesquisa, a outra é entregue ao produtor que pode comercializá-la como achar melhor. Esse período é chamado pela Epamig de ‘encubação’ e dura de quatro a cinco anos. “Depois desse tempo, o produtor já conhece bem seu produto, a aceitação dele no mercado e tem segurança para investir na estruturação de uma vinícola própria”, explica Renata.

Foi o que aconteceu com o produtor José Procópio Stella, de Andradas. Ele já tinha o vinhedo e se preparava para produzir o vinho comum, aquele mais popular, de garrafão, quando conheceu a iniciativa da Epamig. “Resolvi participar porque era o apoio que eu precisava. Assim, eu poderia saber se minhas uvas eram boas para a produção de vinhos nobres e se o sistema de dupla poda daria certo e se valia a pena investir”, conta.

Hoje, ele tem uma vinícola própria (@vinicolastellavalentino) com equipamentos de última geração e fabrica o Syrah - Gran Reserva, Syrah Jovem, Syrah Rosé, o Sauvignon Blanc e o carro-chefe Tempranillo, com a uva de mesmo nome, trazida da Espanha. “Trata-se de um vinho de média intensidade, com aromas de baunilha e coco e teor alcoólico de 14,5, que tem agradado muito os visitantes da vinícola. Harmoniza bem com carnes de porco e carneiro”.

A parceria com a Epamig ainda se mantém porque a empresa, atualmente, está experimentando as Piwis, híbridos que ‘puxam’ bem as características de uvas viníferas e são mais resistentes a doenças. É uma linha que tem sido estudada na Europa e estamos vendo adaptações aqui no Brasil, tanto para a produção de verão, quanto de inverno”. Procópio Stella é adepto do chamado enoturismo. Para provar seus vinhos, é preciso visitar a propriedade. Se quiser conhecer um pouco mais sobre o projeto, acesse: www.vinicolastellavalentino.com

Casa Geraldo e Família Latarini

Atualmente, a Epamig mantém parcerias com experimentos em Andradas, na vinícola Casa Geraldo e em Botelhos, empresa da família Latarini. “Foram essas vinícolas que trouxeram algumas variedades europeias, que estamos observando para saber como se comportam com o manejo da dupla poda”, explica a pesquisadora Renata.. Na Casa Geraldo, temos um trabalho com adaptação de porta-enxertos com as cultivares Merlot, Cabernet Sauvignon e Syrah. “Estamos tentando melhorar a produtividade com diferentes porta-enxertos de maior vigor e também daquelas cultivares que mais se adaptam à dupla poda”.

Recentemente, os pesquisadores da Epamig iniciaram um trabalho, também com cultivares europeias, para a produção de espumantes, como alternativas às já conhecidas Chardonnay e Pinot.

Acompanham bem a culinária mineira

A jornalista, produtora rural e sommelier, Graziela Reis, é uma apreciadora dos vinhos mineiros. “Sou consumidora assídua e posso afirmar que eles são muito saborosos, aromáticos, encorpados e com acidez equilibrada. Não é à toa que estão ganhando tantos prêmios mundo afora. A sommelier lembra que a técnica da dupla poda permite que a uva seja colhida junto com o café num período do ano em que o clima é mais seco e frio, o que garante uma fruta de melhor qualidade para a fabricação dos vinhos. “Temos bons resultados para Syrah, vista como a uva-ícone do sul de Minas. Entre as uvas tintas, temos também a Cabernet Franc e, entre as brancas, a Sauvignon Blanc e a Chardonnay. Por isso, afirmo, sem medo de errar, que os vinhos mineiros, hoje, não perdem para os bons vinhos da Europa e de outras partes do mundo e ainda harmonizam bem com a culinária mineira, como, por exemplo, com o velho e bom feijão tropeiro”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



Leia mais